A CNI cobrou o aprofundamento de medidas que busquem conter os gastos públicos, tanto para garantir o cumprimento da meta de resultado primário, neste e nos próximos anos, como para estabilizar a dívida pública (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Repórter
Publicado em 19 de março de 2025 às 19h46.
Última atualização em 19 de março de 2025 às 19h50.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) criticaram a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros, a Selic, de 13,25% para 14,25% ao ano. Segundo as entidades, o novo aumento – o quinto seguido e que representa a maior taxa desde 2016 – ameaça o setor de manufatura nacional e prejudica a economia.
O aumento de um ponto percentual era amplamente esperado pelo mercado e foi justificada pelo Copom por conta da inflação pressionada, expectativas acima do teto da meta e incertezas externas.
Na avaliação da CNI, porém, a nova alta da Selic é "desnecessária" para controlar a inflação. Em comunicado, Ricardo Alban, presidente da entidade, afirmou que a taxa já estava em um patamar elevado, impactando negativamente a atividade econômica. "O nível atual da Selic, que implica taxa de juros real de 8,5% ao ano, já tem causado uma desaceleração mais intensa do que o previsto", disse.
A nota justifica que a perda de fôlego da economia já influencia as expectativas de inflação. Dados da pesquisa Focus, do Banco Central, apontados pela indústria, indicam que a projeção da inflação para os próximos 12 meses caiu de 5,49% para 5,23% entre fevereiro e março.
Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024 cresceu apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior, enquanto o consumo das famílias registrou uma queda de 1%, algo que não acontecia desde 2021.
Flávio Roscoe, presidente da FIEMG, também aponta que alta da taxa básica de juros "eleva significativamente o custo financeiro das empresas, que enfrentam despesas maiores com empréstimos e capital de giro, além de encarecer os produtos finais, pressionando a inflação - justamente o que a política monetária busca conter".
"A elevação da Selic a níveis tão altos tende a restringir os investimentos produtivos, aumentar os custos de produção e reduzir a competitividade da indústria brasileira e mineira", disse em comunicado nesta quarta.
A CNI cita que a taxa média de juros para tomadores de crédito, que era de 27,54% ao ano em setembro de 2024, passou para 29,82% ao ano em janeiro de 2025. O que pode comprometer a geração de empregos, segundo a entidade, que vê impactos também para os consumidores, como a restrição no consumo de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos.
Nesse cenário, o presidente da FIEMG destacou que a política fiscal deveria estar "alinhada à política monetária, de modo a garantir maior equilíbrio e eficiência na condução da economia".
"É essencial implementar medidas que não apenas mantenham a inflação sob controle, mas também contenham os gastos públicos, preservem o ambiente de negócios, estimulem investimentos produtivos e promovam o crescimento econômico de maneira sustentável", disse Roscoe.
A CNI, por sua vez, defendeu que o Banco Central leve em consideração outros fatores econômicos, como a queda do dólar e do preço do petróleo, apontados como "elementos favoráveis para o controle da inflação". E cobrou o aprofundamento de medidas que busquem conter os gastos públicos, tanto para garantir o cumprimento da meta de resultado primário, neste e nos próximos anos, como para estabilizar a dívida pública.
"A busca pela sustentabilidade fiscal deve ser uma prioridade de todos os poderes públicos constituídos e de toda a sociedade brasileira. Sem o comprometimento de todos, o Brasil seguirá pecando pela baixa sintonia entre política monetária e política fiscal, o que sobrecarrega a Selic e o custo do crédito, variável-chave para viabilizar investimentos e sustentar ritmo mais vigoroso de crescimento econômico", finalizou Alban.