Consumidores fazendo compras no Best Price da Índia: as medidas, que segundo o Banco Central representam uma "mudança significativa de direção" (Ajay Verma/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2012 às 17h51.
Nova Délhi - Com um crescimento desacelerado por causa da crise internacional, o governo indiano buscou em 2012 a forma de incentivar a economia do país com uma bateria de polêmicas reformas nas quais põe em risco seu crédito político.
A primeira década do século foi no aspecto econômico muito próspera para a Índia, que chegou a ter taxas médias de crescimento de 8% e 9% nos três anos anteriores ao início da crise financeira global, mas agora enfrenta a seu pior momento em anos.
Entre janeiro e março, o país registrou seu crescimento trimestral mais baixo em nove anos, 5,3%, e os 5,5% obtidos no trimestre seguinte e outros frágeis indicadores levaram à revisão das estimativas de crescimento para 5,7% em todo o ano.
"É o crescimento mais baixo da época contemporânea", afirmou em junho o então ministro das Finanças e atual presidente do país, Pranab Mukherjee.
Os últimos dados disponíveis (trimestre abril-junho) sugerem que apenas os serviços se destacam na economia indiana (7,4%), frente a uma indústria anêmica (0,8%) e o tradicional mau resultado do setor agrícola (2,9%), ainda por modernizar.
A agricultura indiana representa menos de um quinto do Produto Interno Bruto do país, mas dá emprego a dois terços dos trabalhadores, por isso a monção inicialmente fraca deste ano ligou o alerta das autoridades.
O melhor indicador da desaceleração é, por outro lado, a frágil produção industrial: no período abril-agosto só cresceu 2,7%, e o fundamental setor manufatureiro, que representa 75% do índice, se manteve em crescimento zero.
A Índia também não se livra de outros indicadores preocupantes, como a queda das exportações, fruto da fraca demanda externa (-6,8% no período abril-setembro), a alta inflação (em torno de 7%) ou os déficits fiscal e comercial.
"Há uma amálgama de indicadores mais frágeis, piores dados de economia e investimento e o aumento do déficit e da inflação, que reduziram nosso crescimento potencial em um ponto em um ano", disse o Banco Central da Índia (RBI) em seu último relatório.
Até pouco atrás, o RBI tinha conseguido controlar a inflação - com uma "tendência de alta nos últimos meses", de 7,8% em setembro - sua principal obsessão, mas teve que ponderar sua restrição de liquidez para não prejudicar ainda mais o crescimento econômico.
"Em nossa opinião, o Banco Central deve intervir e descer as taxas de juros", afirmou recentemente o chefe da Confederação de Indústria Indiana, Chandrajit Banerjee, que alertou que a desaceleração industrial "não chegou ao fundo do poço".
Nos últimos meses, a má situação econômica - coroada com um déficit de 5,1% com tendência de piorar - foi amparada por vozes que acusavam o governo indiano de inação, inclusive com críticas veladas no último relatório do Banco Central.
"Movimentos inadequados nas frentes de política e implementação pioraram o clima investidor, que já tinha sofrido devido às incertezas globais e ao momento cíclico na Índia", afirmou a instituição.
Após meses de dúvidas, em parte devido à sua dependência de parceiros regionais opostos à liberalização de serviços, o governo anunciou reformas no setor comercial e de investimentos.
"Nossa prioridade deve ser conseguir um ganho no crescimento entre outubro e abril. Precisamos de coragem e tomar alguns riscos, mas devemos garantir o êxito. O país não merece menos", afirmou naquele momento o primeiro-ministro, Manmohan Singh.
As medidas, que segundo o Banco Central representam uma "mudança significativa de direção", incluem uma maior tolerância a investimentos estrangeiros nos setores de pensões, seguros, comércio no varejo multimarcas e aviação.
Os investimentos estrangeiros registraram uma alta desde então, mas o movimento reformista implica riscos políticos evidentes para o governo do Partido do Congresso, porque causou mal-estar em alguns de seus aliados regionalistas.
Embora por enquanto o Executivo conte com suficientes apoios no Parlamento, o racha entre os que defendem a abertura da economia e os que preferem manter subsídios e um papel ativo do Estado poderia levar a um antecipação do pleito de 2014.