Dinheiro: taxa Selic está hoje no menor nível histórico, a 6,5% ao ano (Bruno Domingos/Reuters)
Reuters
Publicado em 18 de abril de 2018 às 16h29.
Última atualização em 18 de abril de 2018 às 16h30.
O Banco Central reduziu a taxa básica de juros para o menor patamar da história, mas na prática o efeito na atividade econômica está limitado, na visão de analistas consultados pela Reuters, por mudança no comportamento de empresários e consumidores causada por incertezas políticas atreladas às eleições presidenciais deste ano.
"Tudo que a gente tem no ano eleitoral afeta a economia... um dos fatores quando a gente fala que o empresário está cauteloso vai se refletir no crédito", afirmou o professor da Escola de Economia de São Paulo (EESP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Joelson Sampaio.
A Selic está hoje no menor nível histórico, a 6,50 por cento ao ano, e deve continuar sendo reduzida em meio ao cenário de inflação e atividade baixa. Quanto menor a taxa básica de juros, menor é o custo dos bancos e também a taxa dos empréstimos cobrados para as famílias e empresas, que ajudam no consumo e investimentos.
O BC começou a reduzir a Selic em outubro de 2016, quando ela estava em 14,25 por cento e, dado o tamanho e a duração dos cortes, o efeito na economia poderia ser maior, segundo especialistas. Mas a incerteza política com as eleições presidenciais de outubro elevou a cautela do empresário, que dando sinais de que pode adiar investimentos de longo prazo.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em março, a expectativa de investimento da indústria caiu para 53,3 pontos, ante 53,6 pontos em fevereiro. O dado vinha mostrando grande recuperação nos últimos meses, tendo crescido de 48 pontos em março do ano passado.
Outro fator que limita o impacto da Selic mais baixa na economia é o consumo do governo, segundo os analistas, que vem sendo reduzido para tentar ajustar as contas públicas. As despesas discricionárias da União cairão a 95 bilhões de reais em 2019, sobre 114 bilhões de reais neste ano.
"O setor público está fazendo um aperto fiscal draconiano, então fica uma recuperação capenga baseada no consumo (privado)", afirmou o sócio da consultoria Rosenberg Associados Marcos Mollica.
"A recuperação está sendo tímida, foi a maior recessão da história do Brasil e a confiança ainda está muito abalada, tudo no meio de um contexto de grande incerteza, não sabemos quem vai ser o próximo presidente", acrescentou ele, referindo-se à recessão de 2015 e 2016.
Neste início de ano, dados econômicos brasileiros têm decepcionado, entre eles, a queda inesperada das vendas do varejo e o crescimento aquém do esperado da indústria em fevereiro. Pesquisa Reuters também mostrou que o otimismo sobre as perspectivas econômicas de longo prazo sobre o Brasil está dando sinais de menor força diante do ceticismo em relação ao futuro das reformas estruturais após as eleições deste ano.
"Dados de atividade econômica têm desapontado um pouco na margem recentemente, causando preocupações sobre a intensidade do crescimento econômica neste ano", escreveu o Bank of America Merril Lynch em relatório.
Com isso, as expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano perderam força na pesquisa Focus do BC, a 2,76 por cento, frente a 3 por cento poucos meses atrás. E esse movimento já acendeu a luz amarela no setor produtivo.
Na véspera, o presidente-executivo da Usiminas, Sergio Leite, afirmou que as projeções menores sobre o PIB são "um sinal de alerta", uma vez que o ritmo de crescimento da economia "já está muito aquém das necessidades".