Venezuela: para os especialistas, nenhuma das incertezas políticas chega aos pés do país de Maduro (Christian Veron/Reuters)
Reuters
Publicado em 19 de julho de 2017 às 11h05.
Brasília - As economias latino-americanas provavelmente estão crescendo mais lentamente do que o esperado este ano, diante das incertezas políticas antes de uma série de eleições, segundo pesquisa da Reuters publicada nesta quarta-feira.
Os economistas dos principais bancos e consultorias reduziram suas estimativas para o crescimento econômico em 2017 para todos os sete maiores países da região, quando comparada com a pesquisa de abril, com exceção do México, onde o impacto potencial da surpreendente eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos parecia exagerado.
"Esperamos uma recuperação gradual no segundo semestre e até 2018", disse o economista-sênior da Pantheon Economics, Andres Abadia.
"Mas o aumento da incerteza política e o fim iminente de efeitos de base favoráveis nas taxas de inflação em algumas economias limitarão o alcance da ação das autoridades".
A previsão agora é de que o Brasil, maior economia da América Latina, cresça 0,5 por cento em 2017 e 2,1 por cento em 2018, de acordo com a mediana das estimativas, abaixo de 0,6 e 2,4 por cento na pesquisa de abril, respectivamente.
O Chile e a Colômbia deverão crescer 1,6 e 1,9 por cento este ano, abaixo de 1,9 e 2,3 por cento, respectivamente, no levantamento do último trimestre. Na Argentina e no Peru, o PIB deverá crescer 2,5 e 2,7 por cento, respectivamente, também abaixo dos 2,8 e 3,5 por cento calculados na pesquisa de abril.
Na contramão, veio o México, cujas contas de crescimento subiram a 1,9 por cento para 2017, ante 1,7 por cento na pesquisa passada.
"As empresas do México parecem ter percebido que podem ter reagido prematuramente a possíveis mudanças nas políticas dos EUA", disse o economista-chefe do HSBC no México, Alexis Milo.
Apesar da piora das estimativas, a região como um todo ainda deve recuperar-se da contração estimada de 1 por cento em 2016, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em parte porque a queda da inflação está permitindo que os bancos centrais reduzam as taxas de juros.
No Brasil, a inflação deverá cair abaixo de 3 por cento pela primeira vez em mais de dez anos até setembro. A demanda do consumidor permanece fraca após a profunda recessão que terminou no primeiro trimestre, e o Banco Central provavelmente reduzirá a taxa básica de juros para cerca de 8 por cento este ano, perto da mínima histórica.
O avanço da crise política do país, com o presidente Michel Temer enfrentando acusações de corrupção e eventual afastamento do cargo, também turvou o cenário com o aumento das preocupações com a aprovação da reforma da Previdência.
"A permanência de Temer no poder continua sendo o principal ponto de interrogação no Brasil", escreveram os economistas da consultoria 4E.
A questão não é apenas quem permanecerá como presidente este ano, mas também quem deve ser eleito para outro mandato de quatro anos ao final de 2018. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas, foi condenado na semana passada a quase dez anos na prisão. Ele permanecerá livre em recurso.
Também devem correr eleições no México, na Colômbia e no Chile. A Argentina tem uma votação legislativa prevista para outubro.
Mas nenhuma dessas incertezas políticas se compara com a vizinha Venezuela, considerada uma "área de desastre" nas palavras de Abadia, do Pantheon Economics.
Apesar de terem as maiores reservas conhecidas de petróleo do mundo, prevê-se que a economia venezuelana diminua 6 por cento em 2017 e 3 por cento em 2018, frente às previsões de contração de 3,5 e 0,3 por cento na pesquisa de abril, quando o conflito entre o presidente Nicolas Maduro e os líderes da oposição aumentaram.