A fábrica da Honda, em Swindon, Reino Unido: companhia anunciou o fechamento da gigante de automóveis no Reino Unido (Ben Birchall/PA Images/Getty Images)
EFE
Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 17h32.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2019 às 17h44.
Londres - O anúncio de que a Honda fechará sua fábrica em Swindon, no sul da Inglaterra, onde trabalham cerca de 3.500 pessoas, agravou o temor de que a incerteza provocada pela saída do Reino Unido da União Europeia desencadeie uma fuga de empresas e outras consequências econômicas negativas no país.
Os planos da Honda se somam à decisão tomada pela Nissan neste mês de deixar de produzir seu modelo X-Trail na Inglaterra e às advertências por parte da Ford e do grupo Jaguar Land Rover sobre os riscos de uma saída não negociada da UE.
Além das gigantes do setor automotivo, a Sony anunciou a transferência da sua sede europeia para Amsterdã, na Holanda, e a Airbus alertou que pode deixar o Reino Unido em caso de um Brexit não negociado com a UE. Já a Siemens planeja reduzir seus investimentos no país.
Milhares de companhias ativaram planos de contingência diante da possibilidade de que o Reino Unido rompa seus laços com Bruxelas de maneira não negociada no próximo dia 29 de março, segundo as Câmaras de Comércio Britânicas (BCC, na sigla em inglês).
O parlamento britânico rejeitou em janeiro os termos de saída pactuados com a UE, razão pela qual o país deixará o bloco sem período de transição algum dentro de seis semanas se não ratificar antes um pacto ou pedir uma extensão do prazo, algo que a primeira-ministra, Theresa May, descarta por enquanto.
Um Brexit sem acordo ameaça colapsar os portos britânicos em um primeiro momento e complicar mais adiante os trâmites alfandegários, devido à imposição de novas tarifas às importações e às exportações.
Muitas empresas com base no Reino Unido têm redes de fabricação internacional, nas quais alguns componentes cruzam o canal da Mancha em ambas as direções antes de serem montados no produto final, motivo pelo qual tarifas e atrasos na fronteira podem afetar suas operações.
Deixar a UE sem um acordo, além disso, obrigaria as companhias britânicas a comercializar com os demais países sob as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), com condições menos vantajosas que os atuais tratados dos quais o Reino Unido participa como membro da união aduaneira comunitária.
O governo britânico prevê ter prontos no dia 29 de março apenas seis pactos comerciais para substituir os 40 mantidos pela UE, segundo a imprensa do país, entre eles com Chile, Suíça, Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA, em inglês) e Ilhas Faroe.
Por enquanto parece fora do alcance do governo fechar a tempo acordos com grandes parceiros comerciais como Coreia do Sul, Japão e Canadá.
O setor de serviços, que representa cerca de 80% da economia britânica, e em particular os serviços financeiros, com base na Cidade de Londres (centro financeiro e histórico da capital britânica), também antecipam turbulências se perderem o acesso ao mercado único europeu.
Desde o referendo de junho de 2016, no qual a opção do Brexit ganhou, 56% dos bancos e brokers tornaram público que consideram transferir operações a outros países europeus, ou até já confirmaram esses movimentos, segundo a empresa de consultoria EY.
A consultora calcula que o setor financeiro deslocou ativos em um valor de 800 bilhões de libras (912 bilhões de euros) de Londres a outros centros de operações europeus nos últimos dois anos e meio.
O Bank of America, por exemplo, transferiu sua sede europeia para Dublin em dezembro, uma operação na qual investiu US$ 400 milhões e que, segundo antecipou, não reverterá mesmo que o Reino Unido pactue uma saída suave da UE.
Nesta semana, a seguradora Aviva iniciou trâmites para enviar a Dublin 9 bilhões de euros em ativos, segundo o jornal "The Irish Times", após ter completado uma transferência de mais 1 bilhão de euros no início do mês.
A Holanda captou no ano passado 42 empresas britânicas ou com sólidas estruturas no Reino Unido, devido ao Brexit, e está tentando atrair outras 250, segundo o próprio governo holandês.
Além da Sony, a Panasonic, o banco de investimento japonês Norinchukin, a seguradora marítima UK P&I Club e a companhia de serviços de mídia TVT Media decidiram transferir parte de suas operações para Amsterdã.
Outros países europeus como Irlanda, França, Alemanha, Bélgica e Luxemburgo também estão tentando capitalizar as oportunidades oferecidas pela ruptura britânica com a UE.
O presidente da França, Emmanuel Macron, se reuniu neste ano com representantes de mais de 140 multinacionais, entre elas Goldman Sachs e Google, a quem pediu em inglês: "Choose France" ("Escolham a França").