Bandeira do Brasil do lado de fora da sede do Banco Central: as receitas de serviços, seguros e cartões devem ganhar importância do lucro líquido das instituições (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Da Redação
Publicado em 7 de abril de 2016 às 11h39.
Brasília - O Banco Central avalia que a inadimplência mais alta neste ano trará consequências para o balanço dos bancos, com aumento das provisões e achatamento de margens, cenário que deverá afetar especialmente as instituições públicas, segundo Relatório de Estabilidade Financeira divulgado nesta quinta-feira.
No documento, o BC informou que as instituições já haviam aumentado suas provisões no segundo semestre de 2015, preparando-se para cenário adverso, com perspectiva de baixo crescimento das concessões e de aumento dos atrasos nos pagamentos.
"A inadimplência mais elevada implicará maiores despesas com provisões, acarretando queda das margens líquidas de intermediação e crédito, pressionando a rentabilidade do sistema, especialmente nos bancos públicos, por carregarem em seus portfólios maior proporção de linhas de crédito de menor margem", trouxe o documento.
Segundo o BC, o cenário de derrocada da economia, com juros elevados e a deterioração no mercado de trabalho e no nível de confiança de empresas e famílias, começou a se refletir "de maneira mais pronunciada" nos indicadores de crédito no período.
A resposta das instituições financeiras ao cenário mais difícil se deu pelo aperto na concessão de novos empréstimos na segunda metade do ano passado, sendo que os bancos privados aumentaram "de modo significativo" a cobertura de provisões para a inadimplência.
Para a autoridade monetária, a perspectiva de baixo crescimento das concessões vai continuar diminuindo a participação do crédito no resultado dos bancos.
Com isso, as receitas de serviços, seguros e cartões devem ganhar importância do lucro líquido das instituições.
O BC também destacou que os ganhos com eficiência tendem a diminuir, pois "há um bom tempo" os bancos têm empreendido esforços nesse sentido.
Câmbio e Lava Jato
O BC apontou que a exposição das empresas à moeda estrangeira sem mecanismos de proteção identificados passou de 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em junho de 2015 para 3,1% no último mês do ano, refletindo "essencialmente" o avanço do dólar frente ao real no período.
Segundo o BC, o grupo de devedores que não possui proteção cambial relevante e conhecida é restrito.
O BC informou ainda que "seguem como fatores de atenção contínua" os efeitos nas instituições do sistema financeiro decorrentes do aumento do risco de crédito das empresas investigadas na operação Lava Jato, bem como os setores e respectivas cadeias produtivas mais vulneráveis ao cenário econômico".
Apesar das ressalvas, para o BC a liquidez no sistema financeiro se manteve suficiente no último semestre, e que a solvência seguiu em patamar elevado no período.
Destacou ainda que, em situações de estresse, o sistema continuou mostrando capacidade de suportar choques de cenários adversos, como mudanças abruptas nos juros e câmbio.