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João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de julho de 2014 às 07h00.
São Paulo - A semana que passou não foi nada boa para as empresas de refrigerante que atuam no México.
A Femsa, maior engarrafadora de Coca-Cola da América Latina, anunciou uma queda de 4,6% no lucro do segundo trimestre.
Nada grave, se não fosse pela queda de 1,5% nos volumes e 2% na receita do México, de longe o seu principal mercado.
Suas concorrentes Organizacion Cultiba, engarrafadora de Pepsi, e Arca Continental também reportaram resultados parecidos.
A queda segue uma tendência já verificada no primeiro trimestre, e a razão é clara: em novembro do ano passado, o governo mexicano aprovou novos impostos de 8% sobre fast food e de um peso (R$ 0,17) sobre cada litro de bebidas com açúcar.
Desde que entrou em vigor em janeiro, a medida tem atingido seu objetivo de desestimular o gasto com o produto. A Femsa estima que o volume total de vendas no país caia entre 5% e 7% este ano.
O México é o maior consumidor de refrigerante per capita do mundo - quase meio litro por dia, em média - e ultrapassou recentemente os Estados Unidos como o país mais obeso do planeta.
70% de seus adultos e 30% de seus adolescentes estão acima do peso e as taxas de diabetes, pressão alta e outras doenças relacionadas são altíssimas.
Inspiração
A iniciativa mexicana deve servir de exemplo internacional. No momento, Noruega, França e Finlândia são alguns dos poucos lugares que impõe uma taxação extra sobre bebidas com açúcar.
Mais de 30 cidades e estados americanos tentaram (e fracassaram) na criação de impostos do tipo nos últimos anos. Em novembro, os moradores de São Francisco devem decidir na urna sobre o assunto.
Quando era prefeito de Nova York, o bilionário Michael Bloomberg tentou - sem sucesso - banir refrigerantes gigantes na cidade. Sua fundação filantrópica contribuiu com US$ 10 milhões para a campanha pelo imposto no México, que sofreu oposição intensa das grandes empresas do setor.
Cenário doméstico
O sucesso da medida não significa que os mexicanos estejam felizes com seu presidente, que amarga aprovação abaixo dos 40%.
Enrique Pena Nieto conseguiu passar uma série de reformas ambiciosas, mas elas devem demorar para surtir efeito. Enquanto isso, as perspectivas de crescimento seguem piorando e novos impostos começam a pesar no bolso do consumidor.
O do refrigerante não foi o único aprovado nos últimos meses para aumentar a arrecadação. O México tem uma das menores cargas tributárias de toda a América Latina: 19%, contra 36% no Brasil.