Inflação: para os especialistas, a alta da moeda americana deve ter impacto pequeno e localizado (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de maio de 2018 às 14h41.
Última atualização em 4 de maio de 2018 às 14h42.
São Paulo - A variação do dólar, que acumula uma alta de quase 7% este ano, deve ter impacto pequeno e localizado na inflação ao consumidor, segundo analistas.
A avaliação é que a pressão que pode ser sentida mais rapidamente será nos preços dos combustíveis, pelo fato de a Petrobras adotar uma política de reajustes baseada nas cotações do petróleo no mercado internacional - ou seja, em dólares.
Outro foco de pressão pode aparecer no preço dos eletrônicos, que têm boa dose de componentes importados. Mas, por ora, economistas ouvidos pelo O Estado de S. Paulo concordam que essas pressões são insuficientes para provocar uma revisão das projeções para o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA).
Isso porque o fraco ritmo de atividade não permite o repasse dos aumentos de preços para o consumidor. Segundo os analistas ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus, o mercado espera para este ano um IPCA de 3,49%. Já as previsões para a cotação do dólar ao final do ano estão em R$ 3,35.
"O impacto deve ocorrer sobre os combustíveis e no preço da energia elétrica, se as termoelétricas, que são movidas a diesel, forem acionadas", observa o professor de Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, Heron do Carmo.
Apesar de acreditar que o reflexo no IPCA será reduzido, Heron destaca que a percepção de aumento da inflação pode ser notada de forma mais intensa do que o apontado pelo IPCA. É que as despesas com combustíveis acabam sendo uma grande referência de inflação para o cidadão comum, diz.
O economista Paulo Picchetti, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), observa que o padrão de transmissão da alta do câmbio para os preços ao consumidor mudou depois da recessão. Apesar de não dispor de números, ele afirma que, por conta da atividade fraca, o repasse é menor do que já foi no passado, e também é mais defasado.
Fabio Romão, economista da LCA Consultores, que acabou de revisar para baixo a previsão de IPCA para este ano, de 3,7% para 3,5%, concorda com Picchetti. Para ele, o fraco ritmo de atividade não deve chancelar reajustes de preços a ponto de ter impacto global no índice de inflação. "A demanda precisaria estar bem aquecida para que isso ocorresse."
A projeção de inflação da consultoria para este ano já considera um dólar de R$ 3,50, que, antes da disparada do câmbio, seria atingido em setembro. "Boa parte desse movimento foi antecipado."
Pichetti diz que é difícil projetar o impacto do repasse do câmbio para os preços e apontar em quais grupos estariam ocorrendo as pressões. Mas, em abril, ele notou no IPC-S que os preços dos produtos comercializáveis, que são os mais sensíveis ao câmbio, voltaram a subir 0,08%, depois de terem caído 0,13% em março.
"É sempre difícil fazer a relação direta do efeito do dólar sobre os preços, mas também é muito difícil alguns setores resistirem."
Nos Índices Gerais de Preços, os IGPs, o impacto da alta do câmbio poderá ser mais visível. Nesses indicadores apurados pela FGV, o dólar tem grande influência, uma vez que os preços no atacado, muitos deles matérias-primas cotadas no mercado internacional, respondem por 60% do indicador.
"Os IGPs são mais sensíveis ao câmbio e o reflexo deve aparecer nos preços das matérias-primas agrícolas e industriais em 30 dias", prevê André Braz, economista do Ibre/FGV. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.