Dos US$ 15 trilhões de aumento do endividamento global em 2023, o relatório informa que 55% tiveram origem em mercados maduros ( SimpleImages/Getty Images)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 14h45.
A dívida global atingiu o valor recorde de US$ 313 trilhões em 2023, um aumento de US$ 15 trilhões, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira, 21, pelo Institute of International Finance (IIF). Apesar do recorde nominal, o valor em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) global atingiu 330%, uma queda de 2 pontos percentuais. Essa foi a terceira queda anual consecutiva.
Dos US$ 15 trilhões de aumento do endividamento global, o relatório informa que 55% tiveram origem em mercados maduros, impulsionados principalmente pelos Estados Unidos, França e Alemanha. Nos mercados emergentes, a alta se concentrou principalmente na China, na Índia e no Brasil.
Segundo o relatório, a redução da relação dívida e PIB ocorreu em mercado maduros, impulsionada em grande parte pelos países europeus. Malta e Noruega foram as únicas economias desse grupo que registram aumento de dívida.
Por outro lado, nos mercados emergentes, a relação dívida e PIB atingiu um recorde de 255%, com maiores altas observadas na Índia, Argentina, China, Rússia, Malásia e Arábia Saudita. Já Chile, Colômbia, Turquia e Polônia registaram quedas de cerca de 10 pontos percentuais.
Entre os principais riscos apontados para a economia global e para o mercado de dívida, o IIF afirmou que a geopolítica, a fragmentação geoeconômica mais profunda e o ressurgimento de blocos geopolíticos levantam preocupações sobre o aumento do endividamento governamental e a disciplina fiscal.
“Os déficits orçamentários dos governos ainda estão muito acima dos níveis pré-pandemia e uma aceleração dos conflitos regionais poderá desencadear um aumento abrupto nas despesas com defesa. O crescente protecionismo comercial e os conflitos geopolíticos também poderão exacerbar ainda mais as restrições da cadeia de abastecimento, conduzindo a gastos governamentais mais elevados para mitigar as implicações adversas do aumento da fragmentação do comércio e dos fluxos de capitais”, informou o IIF.
O economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, afirma que o debate sobre o aumento do endividamento global e os riscos oriundos desse processo ganhou força nos últimos anos, sobretudo após a pandemia de coronavírus que obrigou os governos a gastarem mais. Segundo ele, economias desenvolvidas e mesmo as emergentes estão mais endividadas, em um ambiente de juros mais altos, o que é mais um fator de risco.
“Entre a crise de 2008 e o início da pandemia, os juros globais eram baixos. Agora essas taxas estão altas. Até pelos problemas fiscais no mundo, essas taxas podem ficar altas. Para o curto prazo não há implicação relevante, mas fica uma luz de alerta de que há pontos de vulnerabilidade. Um fato é que o mundo está mais alavancado. A dependência por financiamento é uma ameaça. Em crise de confiança, em momento de maior aversão ao risco e com riscos geopolíticos, algumas economias podem ter dificuldade de rolagem dessas dívidas”, afirmou.
Na prática, Campos Neto afirmou que o endividamento global em alta gera uma crescente necessidade de financiamento e mantém juros de mercado pressionados, o que piora a dinâmica de crescimento das dívidas e eleva as vulnerabilidades dos países.
“Para o longo prazo, aumenta o desafio da sustentabilidade das dívidas. Até quando o mundo dará conta de financiar essa alavancagem?”, questiona o economista.