Economia

Igualdade entre gêneros pode agregar US$ 28 tri ao PIB até 2025

Em relatório, o Fundo de População das Nações Unidas aponta uma associação entre igualdade de gênero, PIB per capita e níveis de desenvolvimento humano

Igualdade: dados mostram, no entanto, que cenário está longe de ser atingido (Huntstock/Thinkstock)

Igualdade: dados mostram, no entanto, que cenário está longe de ser atingido (Huntstock/Thinkstock)

AB

Agência Brasil

Publicado em 17 de outubro de 2017 às 14h48.

A promoção da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres poderia agregar US$ 28 trilho es ao Produto Interno Bruto (PIB) global até 2025, informa o relatório Situação da População Mundial 2017 lançado hoje (17) pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Segundo o documento, estudos apontam uma associação positiva entre igualdade de gênero, PIB per capita e níveis de desenvolvimento humano e a redução das desigualdade de gênero é um fator determinante para que o mundo consiga atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), em 2030.

Mas esse cenário está longe de ser atingido. Dados do relatório mostram que os homens ocupam 76% da força de trabalho global, enquanto as mulheres representam 50%. A pesquisa mostra ainda o valor pago às mulheres corresponde a 77% aos dos homens.

Além disso, em razão das desigualdades, apenas metade das mulheres em todo o mundo possui emprego remunerado. Outro dado alarmante: das mulheres que conseguem entrar no mercado, em todo o mundo, 3 em cada 5 não têm acesso a licença maternidade, e muitas pagam "penalidade pela maternidade".

De acordo com o relatório, esses números mostram que as desigualdades em sau de e direitos sexuais e reprodutivos têm um impacto "evidente" na desigualdade econômica. "O que significa que para as mulheres de qualquer lugar, a gravidez e a criac a o dos filhos podem significar a exclusa o da forc a do trabalho ou sala rios mais baixos".

Segundo o relatório, as mulheres mais pobres são as mais atingidas. "Em muitos pai ses em desenvolvimento, as mulheres pobres, que esta o nos 20% inferiores da escala de renda, e principalmente aquelas nas a reas rurais, têm menos probabilidade de acesso a contraceptivos e cuidado durante a gravidez e o parto do que suas contrapartes nas a reas urbanas mais ricas."

Sem acesso a contracepcão, as mulheres pobres, especialmente as menos instrui das e que moram em a reas rurais, "esta o em maior risco de uma gravidez na o intencional. Isso pode gerar riscos de saúde e repercusso es econômicas por toda a vida. A falta de poder para decidir se, quando ou com que frequência engravidar pode limitar sua educação, atrasar a participação na força de trabalho remunerada e reduzir os ganhos.

A pesquisa mostra que o acesso limitado ao planejamento reprodutivo reflete em 89 milhões de gravidez não intencionais e 48 milhões de abortos em países em desenvolvimento todos os anos. A UNFPA diz que a cada US$ 1 gasto em servic os contraceptivos reduz o gasto de assiste ncia relacionada a gravidez em US$ 2,22.

Os números mostram ainda que "em 2015 houve aproximadamente 14,5 milho es de partos de adolescentes em 156 pai ses, territo rios e outras a reas em desenvolvimento". A maioria dos partos de adolescentes no mundo (95%) ocorre nos pai ses em desenvolvimento e nove de cada dez desses partos ocorrem em um casamento ou uma unia o.

Esses casamentos infantis costumam ser mais frequentes em países onde a pobreza e extrema e entre os grupos mais pobres nos pai ses. "As adolescentes (entre 15 e 19 anos de idade) nos domicílios que esta o entre os 20% mais pobres nos pai ses em desenvolvimento te m cerca de tre s vezes mais partos do que as adolescentes nos domicílios que esta o entre os 20% mais ricos. As adolescentes em áreas rurais tem, em média, duas vezes mais partos (taxa por 1 mil mulheres) do que suas contrapartes nas cidades", diz o relatório.

Brasil

No caso do Brasil, o relatório mostra que um em cada cinco bebês nascem de mães adolescentes. O estudo mostra ainda que entre essas mães adolescentes, de cada cinco, três não trabalham nem estudam; sete em cada dez são afrodescendentes e aproximadamente a metade delas mora na região Nordeste.

Segundo o material, a juventude enfrenta três condições críticas: acesso limitado a serviços e insumos de saúde sexual e reprodutiva; acesso limitado a educação de qualidade e a oportunidades de emprego; e uma alta exposição à violência, em especial contra meninas e violência letal a jovens negros e em comunidades mais pobres.

O relatório mostra ainda o longo caminho que o país precisa percorrer para reduzir as desigualdades entre homens e mulheres. Segundo o estudo, do total de 22,5% das pessoas jovens (15-29 anos), no país, não estudam e nem trabalham. Desses jovens, mais de 65% são mulheres, sendo que a maioria (54,1%) tinha ao menos 1 filho ou filha.

De acordo com o relatório, na população de dez anos ou mais, a proporçao de mulheres que cuida dos afazeres doméstidos chega a 88%, enquanto na parcela masculina fica em 51,5%. Na divisão da média de horas semanais dedicadas a afazeres domésticos, os homens dedicam 10,5h e mulheres 23,3h, mais que o dobro.

Para a UNFPA, isso significa menos possibilidade de completar o ensino formal e, consequentemente, de acesso ao mercado de trabalho e de alcançarem independêcia financeira nas mesmas condiçoes que homens ou de mulheres mais ricas.

Segundo a UNFPA, o maior ni vel de instruc a o de meninas e mulheres tem uma associac a o positiva com melhores resultados em sau de materna e infantil, assim como menores taxas de mortalidade. A melhoria na igualdade de ge nero que resulta de uma maior parcela de mulheres na forc a de trabalho tem sido associada a menor desigualdade de renda", diz o relatório.

De acordo como representate da UNFPA no Brasil, Jaime Nadal, o desafio não é apenas reduzir a pobreza e a desigualdade econômica, mas também as desigualdades quanto as oportunidades. "O que o relatório está falando é que pensar desigualdade não é só o quanto uma pessoa tem ou não tem. Ele está dizendo que é isso, mas não só: é o que as pessoas podem fazer nas suas vidas ou podem não fazer dependendo do acesso a oportunidades que tiveram, particularmente no momento quando eram crianças e adolescentes e puderam completar todo esse ciclo de educaçao, de saude e de iinserção na vida produtiva", disse Nadal à Agência Brasil.

Para o FNDA, somente com a promoçao da equidade de direitos de mulheres e meninas, especialmente no acesso universal aos servic os e direitos de sau de sexual e reprodutiva - sa o necessa rios para alcanc ar o desenvolvimento sustenta vel.

Para o fundo o cenário colocado traz ameaças à paz e ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e que a menos que as "desigualdades recebam atenção urgente e que as mulheres, em especial as mais pobres", esse cenário não será atingido.

Segundo Nadal, a sociedade pode colher grandes benefi cios econo micos e sociais quando todas as pessoas puderem desfrutar de seus direitos a sau de e a educac a o. No caso das mulheres, essa questão passa por decidir se, quando e com que freque ncia engravidar; e quando os homens e mulheres esta o em pe de igualdade na forc a de trabalho.

O crescimetno econômico por si só não basta. É preciso que ele seja também um crescimento distributivo, equitativo, que realmente camadas amplas da população possam se beneficiar do crescimento economico. Porque se permanecer muito concentrado em setores pequenos da população ele não vai ser duradouro, não vai ser sustentável e vai gerar mais desigualdade", disse.

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