Funcionário trabalha em construção: Braço do Banco Mundial busca criar novo modelo de apoio ao setor junto com o governo federal (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2015 às 12h20.
São Paulo - O IFC, braço do Banco Mundial de investimento no setor privado, está trabalhando junto ao governo no novo modelo de financiamento da infraestrutura e no apoio às construtoras para que, no prazo de 18 a 24 meses, estejam aptas a investir no segmento.
Hector Gomez Ang, gerente geral para o Brasil da instituição, disse ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que a operação Lava Jato afetou o programa de investimento em infraestrutura e que o Brasil vive um momento especial, o qual exige mobilização da instituição.
Nesse sentido, Ang pontuou que o IFC olha tanto para a Petrobras quanto ao segmento de construção, onde a instituição mundialmente não tem vocação.
"Claramente temos uma preocupação com o programa de investimento no Brasil que está sendo afetado pelas condições macroeconômicas e pelo impacto das investigações da operação Lava Jato em empresas do setor de infraestrutura, da cadeia de óleo e gás e de construção", afirmou.
"Todos esses setores são estratégicos para o IFC e nesse contexto temos tido muitas conversas com os participantes do mercado, relacionadas às oportunidades de investimentos. Nossa perspectiva, como IFC, é dar apoio ao programa de investimento do governo em infraestrutura para que ele não pare ou seja afetado do modo mais leve possível", acrescentou.
Segundo ele, existem boas empresas e bons ativos em setores interessantes que estão sendo adversamente atingidos em seus planos porque os grupos aos quais pertencem estão com sua capacidade de investimento reduzida em função da aversão ao risco causada pela Lava Jato.
"Filosoficamente temos preferência por injetar dinheiro novo em empresas que buscam capital para investimento e expansão, mas entendemos que essa é uma situação particular e estamos entrando com mente aberta de, potencialmente, fazer alguns investimentos e resgatar alguns ativos", afirmou.
Em relação a Petrobras, Ang diz que o setor privado dará conta de adquirir os ativos que a companhia está colocando à disposição por meio de seu plano de desinvestimento.
"Como entidade temos tido conversas com o mercado e nossa avaliação é que tem muito interesse e, como participar de ativos da Petrobras fica na fronteira de nosso escopo, não enxergamos que seria necessária nossa participação. Mas se houver uma situação em que o nível de risco (de não venda) chegue a um ponto em que nossa participação se torne importante para trazer mais investidores para a mesa, podemos entrar", disse. Ang acrescenta, que, no momento não há nenhuma negociação específica.
Infraestrutura
O engajamento do IFC é atualmente maior no campo da infraestrutura, permeando o contexto das construtoras, mas também envolvendo a reversão no papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de principal âncora dos financiamentos.
O representante do IFC no Brasil explicou que a entidade muitas vezes entra como uma espécie de avalista em projetos de aquisições, ou seja, adquire participação para dar segurança a outros potenciais interessados em determinada empresa ou ativo. "Estamos trabalhando com o BNDES, com o Banco do Brasil e outros bancos comerciais para participarmos de financiamentos tanto diretamente com funding quanto como apoio para a melhora creditícia", disse.
Ang comenta que o setor de construção não está entre os que a instituição atua mundialmente, mas que o apoio do IFC ao setor se fará presente no contexto futuro da infraestrutura. "Há uma reorganização do setor de construção e enxergamos que o IFC pode ter papel relevante, apoiando alguns players para saírem fortalecidos do período atual e para voltarem a investir em 18 a 24 meses", diz.
De acordo com ele, o IFC entende ainda que sua participação se faz necessária também no apoio às empresas que não fazem parte das cinco principais empreiteiras para que deem um passo adiante e se tornem players mais relevantes e, no médio prazo, a grupos estrangeiros.
"Temos uma série de conversas em andamento com investidores estratégicos e financeiros para analisar projetos de investimento. Não é um momento fácil, tem desafios mas estamos com capacidade total avaliando e analisando", diz.
Para ele, um modelo de project finance mais puro irá emergir na esteira da Lava Jato, em que os financiadores dos concessionários terão maior poder de escolha das construtoras que executarão os projetos, mitigando seus riscos e os deixando mais confortáveis no financiamento.
"Não será uma imposição do poder concedente (governo), mas essa era uma conversa que vinha se desenvolvendo com inércia e nossa leitura é que está tomando força e convicção no mercado após a Lava Jato, porque esse é o modelo que na maioria dos outros mercados desenvolvidos funciona", explicou.
Ele diz que a ideia não é impedir que a construtora contratada seja do mesmo grupo do operador do projeto, mas criar uma cultura em que o operador, a partir de uma exigência dos financiadores, escolha a construtora com melhor garantia de entrega no tempo e ao menor custo.
Ang espera que os desdobramentos das conversas que o IFC mantém como o setor privado e com o governo fiquem visíveis no segundo semestre. "O foco hoje das empresas é lidar com os desafios macroeconômicos e com o ajuste fiscal. A agenda para a infraestrutura do setor público e privado está no segundo semestre", diz.