Otimismo na agricultura: em 2016, a produção de café arábica, o principal cultivado no país, deve totalizar 2,303 milhões de toneladas, 15,7% a mais do que no ano passado (Inti Ocon/AFP)
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2016 às 13h57.
Rio - O clima está mais favorável à produção de grãos em 2016, afirmou nesta quinta-feira, 4, o gerente da Coordenação de Agropecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Carlos Barradas.
Entre as culturas beneficiadas pelo regime de chuvas estão o café e o feijão, destacou.
Em 2016, a produção de café arábica, o principal cultivado no país, deve totalizar 2,303 milhões de toneladas, 15,7% a mais do que no ano passado
"Em 2014 e 2015 tivemos quebra muito grande. Primeiro, houve estiagem muito forte em São Paulo e no sul de Minas Gerais. Já no ano passado, houve problema sério no cerrado mineiro", explicou Barradas.
"Quer dizer, foram dois anos de produção baixa do café, apesar das exportações elevadas. Com isso, houve redução dos estoques, e os preços vêm se mantendo", acrescentou o gerente. Segundo ele, o preço da saca, que está entre R$ 490 e R$ 500, tem estimulado o plantio nas principais regiões. Em Minas Gerais, por exemplo, a produção deve ser 21,4% maior do que em 2015, com a ajuda do clima.
Já a produção de café robusta deve chegar a 676,4 mil toneladas em 2016, alta de 3,3% sobre o volume colhido no ano passado. No mês passado, houve o retorno das chuvas em algumas regiões com destaque na produção, como o Espírito Santo. Apesar disso, as médias ainda ficaram abaixo do necessário para recuperar as lavouras, prejudicadas pela estiagem de 2015.
No caso do feijão, a primeira safra, que não é irrigada e depende do clima, tem apresentado boas perspectivas. Em relação ao terceiro prognóstico, apresentado no mês passado, a estimativa de produção de feijão de 1ª safra subiu 1,7%. Na comparação com o ano de 2015, o aumento na colheita será de 18,6%, segundo o levantamento do IBGE. No total, a produção alcançará 1,591 milhão de toneladas.
"O regime está mais chuvoso este ano do que em 2015", justificou Barradas, citando principalmente os Estados do Nordeste. O Ceará, por exemplo, deve saltar da 7ª posição para a 2ª, com incremento de 268,2% na produção. No ano passado, a região havia sido atingida pela seca. No Piauí, o avanço será de 111,8%.
O feijão 2ª safra, cuja produção totalizará 1,328 milhão de tonelada, também é beneficiado pelo clima úmido. O aumento na colheita será de 1,8% em relação a 2015.
"Tivemos quatro anos de seca no Nordeste, mas este ano está muito melhor. É uma espécie de redenção", disse Barradas.
Soja e milho
Apesar de o clima chuvoso ter favorecido culturas nas regiões Norte e Nordeste, os produtores do Centro-Oeste mantêm certa apreensão em relação ao regime de precipitações durante a safra de soja e milho, explicou Barradas. "Neste ano, a chuva atrasou no Centro-Oeste, o que atrasou o plantio de soja e deve atrapalhar o milho de 2ª safra", disse.
"Hoje, não se sabe se vai ter janela para chuvas beneficiarem plantação de milho", acrescentou o gerente. Somado à tendência de substituição do milho 1ª safra por soja, isso deve reduzir a oferta de milho no mercado doméstico no primeiro semestre, com repercussão sobre os preços do grão e de produtos que o utilizam como matéria-prima, como rações e carnes.
Além disso, o sul de Mato Grosso do Sul teve problemas de estiagem durante o mês de janeiro, explicou Barradas. "É uma área importante de produção no Estado. Isso acaba afetando as produções de soja e milho", afirmou o gerente.
O IBGE estima quedas de 3% e 7% para a produção de milho em 1ª e 2ª safras, respectivamente, ante o ano passado.
Na soja, o impacto do clima ainda é mínimo. Entre dezembro e janeiro, a estimativa caiu 0,1%, para 102,689 milhões de toneladas, mas os técnicos do IBGE alertam que é preciso observar o comportamento nas próximas leituras.
Cana
O novo ordenamento nas lavouras de cana-de-açúcar, com proibição de queimas e aumento da mecanização, deve levar a uma redução na produção este ano a despeito dos preços mais competitivos de açúcar e etanol, afirmou Barradas. Segundo o órgão, serão colhidas 721,389 milhões de toneladas, queda de 4,4% ante 2015.
"Em São Paulo, as lavouras estão assumindo um novo ordenamento em função da proibição da queima e do aumento da mecanização da colheita. Como a mobilização de pesadas máquinas demanda logística adicional e custosa, lavouras mais distantes e localizadas em áreas de difícil acesso tendem a não ser replantadas", explicou Barradas.
Só em São Paulo, há expectativa de queda de 6,2% na produção de cana este ano. Com isso, a colheita do Estado sai da casa das 400 milhões de toneladas, de acordo com o IBGE. Também devem ter quedas Goiás (-8,4%) e Paraná (-0,4%).