Euro: "Não foi a França quem provocou o 'Brexit'. Foram os próprios britânicos que quiseram um referendo" (Krisztian Bocsi/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 29 de junho de 2016 às 14h13.
Bruxelas - O presidente da França, François Hollande, afirmou nesta quarta-feira que o Reino Unido não poderá fazer certas operações denominadas em euro assim que deixar a União Europeia (UE) e que essas ações terão que ser deslocadas para um país dentro do bloco comunitário.
O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, também se manifestou de forma parecida, ao assegurar que, após o "Brexit", não será possível agir como se nada tivesse acontecido e que a saída do país do bloco comunitário terá "consequências práticas".
"Quando (o Reino Unido) não estiver mais no mercado único, fora da UE, se essa for a decisão nas negociações, não há nenhuma razão para que a Europa, e menos ainda a zona do euro, permita que um país que já não é membro da União e que nunca foi da zona do euro, possa continuar fazendo operações em euro", disse Hollande em entrevista coletiva após a reunião informal dos chefes de Estado e de governo dos 27 países-membros do bloco.
Hollande se referiu às operações de compensação e liquidação de valores denominados em euro, durante uma entrevista coletiva após a reunião de hoje dos líderes da UE, a primeira sem o Reino Unido, para discutir a saída do país, que foi decidida em referendo pela maioria dos cidadãos britânicos.
"Não foi a França quem provocou o 'Brexit'. Foram os próprios britânicos que quiseram um referendo, seu governo, eles que colocaram a questão de se deveriam ou não ficar na UE. E responderam", disse Hollande.
Até que o Reino Unido deixe de ser um integrante pleno da UE, Hollande detalhou que a 'City' londrina, o centro financeiro da capital, poderá realizar "operações de compensação em euro, tratar situações nas quais o euro é a moeda de transação, inclusive se o Reino Unido não está na zona do euro e sim no mercado único".
O presidente francês lembrou que esta questão "não estava garantida, que faltou todo um processo para que o Reino Unido pudesse manter esta situação bastante exorbitante, que mesmo não sendo parte da zona do euro pudesse ter uma praça financeira que utilizasse o euro".
Mas com sua saída da UE, garantiu Hollande, "não há razão" para que o Reino Unido siga operando essas transações em euro, que, para ele, devem ser "deslocadas para praças financeiras na Europa".
"Essas operações ocorreriam em praças financeiras europeias, mas ainda não chegamos lá, estamos no início desse processo", disse Hollande, que acrescentou que é preciso "entender bem que as vantagens adquiridas não podem ser mantidas".
A eventual perda do peso financeiro da 'City' londrina uma vez que o divórcio entre Londres e Bruxelas for efetivo fez com que alguns bancos e operadores financeiros tenham cogitado mudar sua localização para outras capitais europeias, como Paris e Amsterdã.
Hollande afirmou que o princípio de que "o que é nosso é nosso, e o que é seu é negociável, não funciona".
Em todo caso, o presidente francês pediu que o processo "não seja feito como uma ruptura, com uma vingança", e que sejam levados em conta "os interesses econômicos da UE e do Reino Unido" para que "a economia possa funcionar e se financiar".
"Mas haverá consequências, e o que desejo é que as praças financeiras europeias se preparem para garantir certo número de operações que já não poderão ser feitas em seu devido momento no Reino Unido", concluiu.
Já o premiê italiano, ao ser perguntado se compartilha com a tese de Hollande ou se é favorável a manter um enfoque mais "amável" com o Reino Unido nesta questão financeira, garantiu que "é impossível ser mais amável do que Hollande".
Renzi afirmou que as discussões em torno dos aspectos financeiros ligados à 'City' londrina serão mantidas mais adiante e que a União Europeia "não tem que ser dura, mas muito clara com o Reino Unido".
No entanto, o premiê italiano reiterou que "não é possível fazer como se o mundo não tivesse mudado", e que lamenta a escolha dos britânicos, que no final, "será pior para eles, porque esta decisão terá consequências práticas", concluiu.