Economia

Herança da eleição de 2026 pode ser muito cara, diz Marcos Lisboa sobre gastos do governo

Economista se preocupa com a falta de consistência do arcabouço fiscal que, na sua avaliação, não limita o crescimento das despesas públicas nem muda a trajetória da dívida

Marcos Lisboa: economia afirma que governo criou "armadilha" com arcabouço fiscal (Um Brasil/Divulgação)

Marcos Lisboa: economia afirma que governo criou "armadilha" com arcabouço fiscal (Um Brasil/Divulgação)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 30 de março de 2025 às 08h10.

Ainda faltam 20 meses para a próxima eleição presidencial, mas os efeitos de possíveis medidas do atual governo para aumentar a popularidade — e consequentemente, chegar mais competitivo em uma eventual disputa — preocupam Marcos Lisboa, economista e ex-secretário de Reforma Econômica durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

"Eu vejo com preocupação esse cenário de ano pré-eleitoral. Espero que não vivamos um 2013 de novo. A herança da eleição de 2026 pode ser muito cara", afirma em entrevista exclusiva à EXAME.

A principal preocupação do economista está relacionada à falta de consistência do arcabouço fiscal, que, na sua avaliação, não limita o crescimento das despesas públicas nem muda a trajetória da dívida na relação com o PIB.

Para ele, o desenho atual cria uma "armadilha", na qual o aumento da receita leva ao aumento das despesas.

"Esse problema vai ter que ser enfrentado este ano ou no próximo. O governo está tentando adiar a solução, mas vai ter que lidar com isso. O governo terá que lidar com um problema que ele mesmo criou", diz.

Hoje, Brasil tem uma dívida pública de 76,1% do PIB, valor superior em mais de 15 pontos percentuais do PIB em relação aos seus pares emergentes, com médias de 60%. A expectativa do mercado é que o valor vai crescer no curto prazo e pode passar da casa de 80%.

Custo grave no futuro

Lisboa defende que o teto de gastos, criado durante o governo Michel Temer, teve impactos positivos para o país, com queda da taxa de juros e da inflação, por realmente limitar o crescimento das despesas públicas.

"A opção atual é, por um impulso fiscal forte, trazer crescimento. Mas isso gera desequilíbrios, como aumento da dívida pública e da taxa de juros de mercado. Isso vai ter um custo grave no futuro", afirma.

O economista classificou que a guerra tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é "desastrosa" para a economia global e vai impactar o Brasil. Ele salienta, porém, que o governo americano está fazendo o que "o Brasil faz há 50 anos".

"Vejo isso com muita preocupação. A medida do governo americano está indo em uma direção desastrosa", afirma. "O Brasil, porém, deve tomar cuidado, porque o que o governo americano está fazendo é o que o nosso país faz há décadas: uma economia fechada, protecionista, dominada por lobbies. O Brasil não é pobre à toa. Não podemos reclamar das ações do governo americano, pois temos feito isso há 50 anos."

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