(Diogo Zacarias/MF/Flickr)
Agência de notícias
Publicado em 15 de junho de 2024 às 14h00.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou, neste sábado, 15, decisões de políticos e grandes empresários que nem sempre estão "pensando no país". Ele também afirmou que o Brasil é uma “encrenca”, apesar do potencial de ser grande. As declarações aconteceram durante participação do ministro em painel no evento "Despertar Empreendedor", promovido pelo empresário e ex-banqueiro Eduardo Moreira, criador do Instituto Conhecimento Liberta (ICL).
"O Brasil é uma encrenca, né? É um lugar difícil de administrar", disse o titular da Fazenda. "Às vezes, quem está numa posição de poder não está fazendo a coisa certa pelo país. Isso é a coisa mais triste da vida pública. Você tem país de ouro, povo de ouro, uma coisa maravilhosa, mas vê que quem pode fazer a diferença nem sempre está pensando em interesse público. E devia estar porque está numa posição de poder, ou porque é grande empresário ou um político com mandato. Você fala, ‘Pô, essas pessoas não estão pensando no país?’", disse.
Durante conversa com Eduardo Moreira e com o jornalista Leandro Demori, em São Paulo, Haddad também criticou propostas no Congresso que geram divisão na sociedade, em um momento que avança, a toque de caixa, o projeto de lei que equipara o aborto após a 22ª semana de gestação a homicídio. Sem citar diretamente o PL, ele defendeu que era necessário focar naquilo que realmente pode “melhorar” a vida das pessoas.
"A todo o momento você fica apreensivo (em Brasília). 'Que lei vão aprovar? O que vão fazer? Que maluquice é esse, o que estão falando?'. Por que eles não se dedicam a coisas sérias que vão mudar a vida das pessoas? Para que essa espuma toda, para criar cizânia na sociedade, briga na família? Por que a gente não foca naquilo que vai mudar a vida para melhor das pessoas?", questionou o ministro.
Haddad também reforçou que era preciso pensar em um “projeto coletivo” de país e afirmou que o Brasil tinha potencial para ser grande, sem ser o "quintal de ninguém”. Ele citou, entre os potenciais de crescimento a longo prazo, o do Brasil se tornar uma "potência socioambiental”.
O ministro vem em um momento de pressão, por parte do mercado financeiro, para apresentar uma agenda de redução de gastos pelo governo federal. Neste sábado, ele não tratou diretamente do tema, mas citou que gosta da “hora dura”:
"Muitas vezes, você começa a perder a noção de quem gosta de você e de quem está te bajulando. E na hora dura só aparece quem gosta de você, só aparece o teu amigo de fé", disse.
Na quinta-feira, diante da desconfiança de agentes financeiros com a capacidade do governo equilibrar as contas, Haddad e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, indicaram que iriam fazer um “pente-fino” nos gastos federais e prometeram apresentar medidas de redução de despesas ao presidente. Mais cedo, neste sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que irá discutir uma revisão de gastos com Haddad nos próximos dias, mas ponderou que não fará ajuste fiscal “em cima dos pobres”.
Durante o painel deste sábado, Haddad também lembrou do passado em que trabalhou durante 18 anos como vendedor na Rua 25 de Março, polo de comércio popular de São Paulo, que considerou um "período rico" para usa formação, e reforçou sua vocação como a de professor e não de "político profissional".
"O cara às vezes quer fazer carreira política e só. Quando você está na vida pública da maneira como eu a encaro, que é um serviço público, que eu optei por servir o país ou a cidade naquele momento, mas que eu posso voltar para a sala de aula… A sala de aula está sempre ali para mim.", disse Haddad, que foi aplaudido quando disse que preenche a profissão como "professor" em fichas de hotel. "Eu não sou político profissional, eu sou professor. Minha condição de vida é essa. Então, para mim, voltar para a sala de aula é voltar para casa, para o meu ambiente", concluiu.