Economia

Há "cultura do fisiologismo" em volta da gestão pública, diz Pedro Parente

Ex-presidente da Petrobras que deixou o cargo depois da crise com os caminhoneiros e assumiu a BRF criticou também o fragmentado modelo político brasileiro

Pedro Parente: "As indicações políticas se estendem a níveis de gestão que deveriam ser estritamente profissionais" (Sergio Moraes/Reuters)

Pedro Parente: "As indicações políticas se estendem a níveis de gestão que deveriam ser estritamente profissionais" (Sergio Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de julho de 2018 às 16h46.

Brasília - Após deixar a presidência da Petrobras no polêmico episódio da redução dos preços dos combustíveis para acabar com a greve dos caminhoneiros, Pedro Parente fez uma forte crítica à governança pública e ao fragmentado modelo político brasileiro que resulta em aparelhamento de órgãos que deveriam ser pautados pelas decisões técnicas. "Não sou otimista sobre o assunto".

"É impossível ter um governo orgânico. O planejamento e a gestão pública não existem porque existem 26 partidos representados, cada um com a sua visão. E a pergunta que vem é: essa é melhor maneira de gerir?", questionou o ex-presidente da Petrobras e que atualmente ocupa a presidência da BRF Foods, durante debate sobre governança pública no Encontro Nacional da Indústria promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Parente diz que há uma "cultura do fisiologismo" em volta da gestão pública. "As indicações políticas se estendem a níveis de gestão que deveriam ser estritamente profissionais, o que permite aparelhamento da máquina de decisões", disse Parente, ao citar que atualmente até mesmo as agências reguladoras "foram alvo desse loteamento dado a fragmentação" política. O ex-presidente não citou a Petrobras em nenhum momento do debate.

Para o atual presidente da BRF, o conjunto de problemas diagnosticados na gestão pública "não permitem ao sistema a autocorreção da governança". Para piorar, Parente diz que esse ambiente "propicia a autopreservação (dos problemas) e o agravamento da situação".

Diante desse diagnóstico, o ex-presidente da Petrobras disse que a governança pública é um "tema absolutamente crucial" para o Brasil. Parente citou que a boa governança deve permitir "funcionamento orgânico do governo", ter uma "diretriz clara", onde prevalece a organização coletiva "que podem expressar uma opinião franca e que, quando é tomada uma decisão, seja implementada".

Elogios de Temer

Durante o discurso de abertura no evento, o presidente da República, Michel Temer, elogiou o presidente da CNI, Robson Andrade, por ter escolhido Pedro Parente para o debate.

"Sob foco administrativo, quero cumprimentá-lo por ter trazido Parente, escolhido por nós (do governo) para recuperar a Petrobras. Há dois anos, a Petrobras representava um exagero, quase um palavrão, e Parente foi lá para recuperá-la e o fez ao longo desse período", disse o presidente.

Temer não comentou as circunstâncias da saída de Parente que pediu demissão em meio à polêmica da greve dos caminhoneiros.

 

 

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