Economia

Guerra contra carvão enriquece maiores produtores do mundo

Anglo American, Glencore e BHP Billiton estão gerando os maiores lucros em anos com suas minas. Tudo pode resumido em uma simples equação: oferta e demanda

Algumas das quedas mais importantes estão ocorrendo na China (Kevin Frayer/Getty Images)

Algumas das quedas mais importantes estão ocorrendo na China (Kevin Frayer/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 6 de maio de 2018 às 08h00.

Última atualização em 6 de maio de 2018 às 08h00.

A guerra do mundo contra o carvão está enriquecendo os maiores produtores do produto, pelo menos por enquanto.

A Anglo American, a Glencore e a BHP Billiton estão gerando os maiores lucros em anos com suas minas de carvão. A renda das 37 produtoras de carvão acompanhadas por um índice da Bloomberg Intelligence foi a mais alta em seis anos.

Tudo é resumido pela equação mais simples dos negócios: oferta e demanda. Como governos da Ásia e da Europa estão impondo limites de poluição mais estritos, à medida que o debate sobre a mudança do clima se intensifica, a produção do combustível mais poluente do planeta está diminuindo.

Algumas das quedas mais importantes estão ocorrendo na China, a maior operadora de minas, e o financiamento para oferta nova está se esgotando. Isso está gerando um lucro inesperado para os produtores restantes.

“É uma consequência perversa” de políticas que visam combater a mudança do clima, disse Julian Treger, cofundador da Audley Capital Advisors, uma investidora ativista. “Será muito difícil para os financistas proporcionar capital para incorporar novos ativos de carvão à rede. Um cenário muito interessante de oferta e demanda está sendo criado.”

A Anglo American, que recentemente queria vender seus ativos de carvão, registrou o triplo da renda obtida com o negócio desde 2015, e com isso o carvão se transformou na commodity mais rentável da mineradora.

No ano passado, a Glencore informou que a renda obtida com o combustível mais do que dobrou e a BHP Billiton afirmou que essa renda cresceu mais de seis vezes.

Queda

A preocupação pela escassez de oferta intensificou os preços. O carvão europeu para exportação quase dobrou seu preço em relação aos picos atingidos em 2016, e os futuros dos EUA em 2018 estão em média 50 por cento mais altos do que dois anos atrás.

Um dos motivos para a queda da produção é a falta de financiamento para o setor de carvão. Diante da preocupação cada vez maior com a mudança do clima, os credores reduziram o financiamento para o setor de US$ 22,5 bilhões em 2015 para US$ 14,9 bilhões no ano passado, segundo a BankTrack. Pelo menos 15 dos maiores bancos têm políticas que proíbem investimentos em projetos de carvão.

O JPMorgan Chase & Co., o HSBC Holdings e o Credit Suisse Group não querem financiar minas novas, e o Societé Générale e o Deutsche Bank vão mais longe e proíbem os empréstimos para usinas de energia a carvão.

Afinal, a alta dos preços do carvão poderia acelerar a troca por combustíveis mais limpos. Já aumentou a concorrência de usinas de gás natural, turbinas eólicas e painéis solares, cuja construção e operação estão ficando mais baratas. Isso enfraquece os argumentos econômicos para continuar queimando um combustível com emissões tão altas, até mesmo nos países em desenvolvimento.

“Este é um produto letal na forma em que ele é consumido em grande parte do mundo”, disse Nick Stansbury, gerente de fundos da Legal & General Group. “Proporcionar energia para pessoas que não têm outro acesso a ela é muito útil socialmente, mas o carvão não é a forma de energia mais útil a ser fornecido.”

Acompanhe tudo sobre:Anglo AmericanBHP BillitonCarvãoCombustíveisCommoditiesEnergiaGlencore

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo