Guerra Comercial: Tensão entre EUA e China pode impactar a economia americana (Delphine TOUITOU/AFP)
AFP
Publicado em 2 de agosto de 2019 às 17h15.
A disputa comercial com a China pode frear o crescimento da economia americana, que embora se mantenha sólida, dá sinais de desaceleração, com menor criação de empregos e queda das exportações.
Bem como as bolsas europeias e asiáticas, Wall Street, que fechou em baixa na quinta-feira, continuou a cair nesta sexta. Investidores estão preocupados com o agravamento do conflito entre as duas maiores economias do mundo, que está minando a economia mundial, ao prolongar a incerteza.
O mandatário americano, Donald Trump, que busca um segundo mandato em 2020, anunciou na quinta-feira que a partir de 1 de setembro vai estender as tarifas alfandegárias a todos as importações vindas da China.
A decisão tomou os mercados de surpresa. Eles ainda estavam animados e otimistas com as negociações EUA-China em Xangai, que foram classificadas como "construtivas" por ambos.
O governo chinês alertou, nesta sexta-feira, que não terá outra solução que não adotar represálias caso Trump concretize sua ameaça. Contudo, Pequim ainda não especificou quais seriam essas respostas.
Este conflito, que já representa tarifas sobre cerca de 360 bilhões de dólares em bens comercializados entre os dois países, prejudica o comércio.
O déficit comercial dos EUA com a China caiu 0,2% em junho, a US$ 30,15 bilhões, anunciou o Departamento do Comércio nesta sexta-feira. E, durante todo o primeiro semestre, caiu 10,3%, a 179,81 bilhões.
Trump diz que a economia dos EUA é imune a esse conflito. E, por enquanto, o Fundo Monetário Internacional (FMI) concorda, observando uma mudança nos fluxos comerciais da China para outros países asiáticos.
Mas os economistas alertam que a incerteza criada por este conflito prolongado acabará por corroer a confiança de consumidores e investidores.
Além disso, a economia americana, que em grande parte foi impulsionada em 2018 pelos cortes de impostos de Trump, diminui à medida que os efeitos dessa política se desvanecem.
Os dados do emprego nos Estados Unidos divulgadas nesta sexta-feira para o mês de julho refletiram a realidade da desaceleração.
A taxa de desemprego se manteve estável, em 3,7%, mas a criação de empregos caiu bruscamente, a 164 mil, contra 193 mil em junho.
Outro sinal palpável da desaceleração é que os EUA criaram, em média, 165 mil empregos por mês desde janeiro, em comparação com a média de 223 mil na primeira metade de 2018.
No setor industrial - o mais exposto à guerra comercial - foram criados 8 mil empregos por mês, contra 22 mil no ano passado.
Um dado mais positivo é que o salário médio por hora aumentou 3,2% em julho em comparação a um ano antes, muito acima da inflação, o que ajudou a manter o consumo em alta.
O gasto das famílias ajudou a manter o crescimento em ritmo saudável no segundo trimestre. Contudo, a expansão de 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB) entre abril e junho foi menor que a de 3,1% no primeiro trimestre do ano.
Reconhecendo a desaceleração econômica mundial e as incertezas em torno do comércio internacional, o Federal Reserve (Fed) decidiu reduzir as taxas de juros para estimular o crescimento econômico dos EUA.
"Os dados econômicos mais uma vez estão submetidos aos acontecimentos políticos e aos mercados", diz Ian Shepherdson, economista da Pantheon Macroeconomics, que espera, como diversos especialistas, uma nova redução dos juros em setembro.
Os economistas da Oxford Economics calcularam que se o governo de Trump realmente impuser as tarifas de 10% sobre 300 bilhões de dólares em importações chinesas em setembro, isto custaria 0,1 ponto ao crescimento do PIB dos Estados Unidos e 200 dólares por consumidor em 2020.