Economia

Guerra comercial, Argentina, Brexit: os desafios da nova diretora do FMI

A búlgara Kristalina Georgieva assume o comando do Fundo depois que a francesa Christine Lagarde renunciou ao cargo para assumir o Banco Central Europeu

Kristalina Georgieva: a economista é a primeira pessoa de uma economia emergente a liderar o FMI desde a sua criação em 1944 (Arnd Wiegmann/File Photo/Reuters)

Kristalina Georgieva: a economista é a primeira pessoa de uma economia emergente a liderar o FMI desde a sua criação em 1944 (Arnd Wiegmann/File Photo/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2019 às 06h34.

Última atualização em 1 de outubro de 2019 às 16h10.

São Paulo — Começa, nesta terça-feira 1, uma nova gestão no Fundo Monetário Internacional (FMI). Com a saída da francesa Christine Lagarde, a búlgara Kristalina Georgieva assume o posto de diretora-gerente da instituição, sendo a primeira no cargo vinda de um país emergente desde a criação do FMI, em 1944.

Em nota, Georgieva destacou que é uma grande responsabilidade comandar o fundo em um momento em que “o crescimento econômico continua decepcionando, as tensões comerciais persistem e a dívida está em níveis historicamente altos”.

Em julho, depois da renúncia de Lagarde — que vai assumir o comando do Banco Central Europeu —, o FMI disse que promoveria uma processo seletivo “aberto, baseado no mérito e transparente”. Georgieva foi a única candidata, com uma indicação da União Europeia. Ela é formada em economia e sociologia, foi vice-presidente da Comissão Europeia para Orçamento e Recursos Humanos entre 2014 e 2016 e atuava como diretora-executiva do Banco Mundial desde 2017.

A nomeação da candidata era esperada, já que há um acordo não-escrito entre Europa e Estados Unidos para garantir que o presidente do Banco Mundial seja americano e o do FMI, europeu. Desde abril, por exemplo, o americano David Malpass preside o Banco Mundial, após indicação norte-americana.

Além disso, durante o processo de seleção do FMI, foi suspensa uma cláusula do regulamento que proibia um diretor-geral com mais de 65 anos, abrindo caminho para a candidatura da búlgara, que tem 66 anos. Ela ficará no posto por um mandato de cinco anos, comandando uma equipe de 2.700 funcionários.

Suas prioridades são ajudar os países a minimizar o risco de crise e dar ferramentas para que eles possam encarar desacelerações econômicas. Georgieva também se comprometeu a continuar dando atenção a temas destacados durante a gestão de Lagarde, como as desigualdades sócio-econômicas e de gênero, os riscos de mudanças climáticas e o avanço rápido da tecnologia.

No final do mês, Georgieva tem seu primeiro grande evento no cargo: a assembleia anual do FMI. Na ocasião, a instituição apresentará suas previsões para o crescimento mundial, com o temor da chegada de uma nova recessão global. Para este ano, as estimativas do fundo são de crescimento da produção mundial em 3,2%, ante 3,6% em 2018 e 3,8% em 2017. A desaceleração pode ser acentuada devido às tensões comerciais entre EUA e China, e a instabilidade aumenta o risco de que mais países precisem da ajuda do Fundo.

A Argentina é um dos países que devem trazer maior preocupação à nova diretora. O país latino-americano negocia novamente com o FMI o reescalonamento de sua dívida de 57 bilhões de dólares com o Fundo, para evitar uma moratória. Os resultados das negociações podem ser colocados em xeque com uma possível vitória de um governo mais à esquerda de Alberto Fernandez, da chapa da ex-presidente Cristina Kirchner, nas eleições de 27 de outubro.

Georgieva é considerada “especialista em emergentes”, e economistas acreditam que seu conhecimento pode ser útil aos argentinos. Antes mesmo de assumir, no dia 25 de setembro, ela se encontrou com o ministro das Finanças argentino, Hernán Lacunza.

A búlgara também estará à frente do Fundo enquanto a Europa enfrenta um desafio inédito: a saída de um país da União Europeia. Com Boris Johnson no poder no Reino Unido, pode ser que a nação opte por um Brexit sem acordo com o bloco no próximo dia 31 de outubro. De Brexit a Argentina e guerra comercial, o FMI precisará estar pronto para agir.

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