Economia

Guerra comercial agrava crise financeira de agricultores dos EUA

Entre os mais atingidos e mais vulneráveis à contínua tensão estão os produtores de soja em todo o cinturão de grãos dos Estados Unidos

Trump: escalada da guerra comercial é um duro golpe para os eleitores do campo que votaram no republicado (Scott Olson/Getty Images)

Trump: escalada da guerra comercial é um duro golpe para os eleitores do campo que votaram no republicado (Scott Olson/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 14 de maio de 2019 às 11h48.

Agricultores americanos, que estão entre os defensores mais leais de Donald Trump, enfrentam um crescente problema financeiro diante da guerra comercial do presidente com a China e o risco de que o prejuízo dure mais do que o conflito.

O impasse comercial com a China aumenta a pressão causada por cinco anos de desvalorização dos preços das commodities e perdas trazidas pelas enchentes na primavera. E, enquanto a disputa se arrasta, a China fortalece relações com fornecedores concorrentes, e agricultores de outros países reorientam as operações para atender aos mercados chineses.

Entre os mais atingidos e mais vulneráveis à contínua tensão estão os produtores de soja em todo o cinturão de grãos dos Estados Unidos. Os contratos futuros de soja caíram na segunda-feira para o nível mais baixo em mais de uma década e acumulam queda de 20% nos últimos 12 meses.

É um duro golpe para os eleitores do campo que votaram em Trump. Na eleição de 2016, Trump venceu em oito dos dez estados com a maior produção de soja, todos na região Centro-Oeste. Iowa, o segundo maior produtor de soja do país depois de Illinois e antes um reduto eleitoral do Partido Democrata, deu mais votos aos republicanos em 2016, mas a preferência poderia ser facilmente revertida.

Alguns líderes do setor agrícola criticaram duramente a mais recente escalada tarifária, embora associações rurais tenham sido cautelosas em culpar Trump diretamente, devido à sua popularidade entre a população do campo.

"Washington fez outro erro de cálculo, e a subsistência de agricultores e comunidades que o governo apoia está ameaçada", disse Lynn Rohrscheib, presidente da Illinois Soybean Growers, que representa 43 mil agricultores no estado, em comunicado na segunda-feira. “Os produtores de soja de Illinois enfrentam desafios cada vez maiores sem um acordo. Não vemos um ponto final."

A sensação de perigo ficou evidente no anúncio do presidente na sexta-feira, em conjunto com novas tarifas sobre produtos chineses em um plano pouco detalhado para ajudar os agricultores, com um pacote de US$ 15 bilhões além dos US$ 12 bilhões de ajuda anunciados no ano passado. O secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, disse que está elaborando um plano que deve ser apresentado ao presidente dentro de “alguns dias a algumas semanas”.

Republicanos da bancada rural alertam que a paciência está acabando, embora evitem críticas ao presidente.

"Eu diria que a comunidade rural está no limite da solidariedade antes de uma mudança de postura", disse Roy Blunt, senador do Partido Republicano em Missouri. "Mas esperamos que o presidente chegue a uma conclusão em breve."

No entanto, na visão de alguns especialistas, Trump não deve perder o apoio dos fazendeiros tão cedo. "Poderia haver alguma erosão do apoio de Trump na base rural do eleitorado", mas a maior parte deles vai "ficar com Trump", disse Mack Shelley, professor de ciência política da Universidade Estadual de Iowa.

A guerra comercial já repercute no setor agrícola dos EUA: as exportações do segmento para a China caíram de US$ 19,6 bilhões em 2017 para US$ 9,2 bilhões no ano passado. No geral, a renda agrícola dos EUA encolheu 16% no ano passado, para US$ 63 bilhões, cerca de metade do valor visto em 2013.

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