Paulo Guedes (Andre Coelho/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 30 de junho de 2020 às 15h33.
Última atualização em 30 de junho de 2020 às 21h56.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi mais um integrante do governo a sair em defesa da política ambiental brasileira, alvo de críticas internacionais.
Nesta terça-feira, 30, em audiência pública no Congresso, Guedes avaliou que existiria uma campanha de difamação sobre o País na área ambiental derivada do protecionismo de economias avançadas.
"Nossa imagem está muito ruim lá fora, até mesmo uma parte de nós falamos muito mal do País. Lá fora há muito oportunista protecionista, como a França, que é uma parceira, investe aqui, mas não quer que exportemos produtos agrícolas para lá. Os Estados Unidos querem entrar com etanol no Brasil e não aceitam açúcar brasileiro lá", afirmou Guedes.
"Esses países jogam uma 'pecha' no Brasil, independentemente de dados embasados. Vamos proteger meio ambiente sem cair na armadilha de outros países em falar mal do Brasil", acrescentou.
O ministro também afirmou que o desmatamento em 2019 foi menor do que em 2018, o que não é sustentado por evidências. O erro foi destacado pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE).
Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontaram que o desmatamento na Amazônia brasileira em 2019 cresceu 85,3% na comparação com 2018. Foi o pior dado em 11 anos.
Na semana passada, um grupo formado por quase 30 fundos de investimento com US$ 3,7 trilhões exigiu que o Brasil freie o crescente desmatamento. Bolsonaro e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmaram que esses investidores estariam "desinformados" sobre o Brasil.
Bolsonaro adota uma postura antiambientalista desde a campanha e já questionou os dados oficiais que mostram explosão de queimadas, culpando ONGs. Seu governo nega o aquecimento global e apoia que as reservas indígenas e zonas protegidas sejam abertas à agropecuária e à mineração.
Ministros-problema
Bolsonaro tem sido aconselhado por auxiliares e parlamentares a substituir os ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores. Eles são considerados problemáticos por integrantes do próprio governo e vistos como entraves para o avanço de acordos comerciais.
Nesta segunda-feira, 29, em uma reunião no gabinete da Vice-Presidência, o governo discutiu a estratégia de reação às cobranças internacionais. Está prevista para a próxima semana uma reunião com integrantes de alguns dos signatários da carta que pediram um freio no desmatamento.
Além do vice Hamilton Mourão, de Salles e de Araújo, participaram a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o presidente da Apex, Sérgio Segovia.
Havia um grupo que defendia que Salles ficasse de fora da conversa com investidores, mas a reunião nesta segunda definiu que o ministro do Meio Ambiente participará.
O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), da Frente Ambientalista, tem sido um porta-voz da insatisfação. “Ele (Salles) perdeu credibilidade para estar à frente do Ministério do Meio Ambiente. Foram vários pedidos de impeachment protocolados, inclusive da sociedade civil. Já fez o Brasil passar vergonha demais. Está na contramão da história, infelizmente”, afirmou ele ao Estadão.
Também integrante da bancada ruralista, o deputado Zé Silva (Solidariedade/MG) dis que "os sinais dos compradores do agro brasileiro e do mercado financeiro acendem um sinal amarelo", disse.
Contrapartida
A Câmara tenta acelerar a votação de projetos ambientais para dar sinais positivos e acalmar investidores estrangeiros. Em um acordo entre ambientalistas e ruralistas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pautou para essa semana a votação do Protocolo de Nagoya.
“É o mais importante regulamento da Convenção de Biodiversidade. O Brasil ajudou a escrever o documento, assinou, mas nunca ratificou. Ficou parado anos”, afirmou o deputado Rodrigo Agostinho.
Desde sua fala revelada no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, em que diz querer “aproveitar esse período de pandemia para passar a boiada” e simplificar as normas ambientais por decreto, o incômodo com a permanência de Salles no governo, por parte de empresários e da oposição, aumentou.
O ministro se defende e diz que é normal haver críticas à uma postura “mais econômica” sobre o meio ambiente. Para o ministro, as críticas são algo normal.