Juan Guaidó, que se proclamou presidente interno da Venezuela e ganhou amplo apoio internacional (Carlos Becerra/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 19h42.
Última atualização em 6 de fevereiro de 2019 às 16h33.
O jovem político que lidera os esforços para remover o autoritário líder da Venezuela pediu uma “relação transparente” com a China, uma das maiores investidoras no país, dizendo que todos os acordos fechados com o regime de Nicolás Maduro serão honrados, desde que tenham sido feitos dentro da lei.
Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional, está na vanguarda de um novo esforço para derrubar Maduro, que, no controle do Exército e da Justiça, vem comandando a repressão aos manifestantes e à oposição e também o esvaziamento da economia venezuelana.
A condição desesperadora das pessoas comuns que lutam contra a disparada dos preços e a falta de energia gerou uma das maiores migrações em massa dos tempos modernos.
“Serei muito claro: todos os acordos que foram assinados dentro da lei serão respeitados”, disse Guaidó em entrevista por escrito. “Se os acordos prévios foram assinados seguindo o devido processo de aprovação da Assembleia Nacional, eles serão aceitos e honrados.”
Guaidó tem o apoio de países como EUA e Brasil e tenta cortar o acesso de Maduro a recursos, especialmente das exportações de petróleo e de ouro, e à renda de empresas dominadas pelo Estado.
A China é uma das maiores investidoras na Venezuela e, apesar de ter sido aliada dos governos socialistas desde Hugo Chávez, Guaidó a descreveu como um país que sofreu com a corrupção e a má administração financeira de Maduro.
“Queremos estabelecer uma relação transparente com a China e acabar com a pilhagem dos nossos recursos que prevaleceu durante o governo de Maduro e que também afetou os investidores chineses”, disse. “Os projetos de desenvolvimento da China na Venezuela vêm caindo porque foram afetados e destruídos pela corrupção ou pelo calote de dívidas.”
A postura da China e da Rússia é fundamental para a capacidade de Maduro de se manter no poder. Os países preencheram o vácuo de investimentos e segurança deixado por décadas de afastamento de Washington de Caracas. Mas o ressurgimento do interesse americano torna as coisas mais complicadas.
A Rússia apoiou fortemente Maduro e a China tem sido mais ambígua, na maioria das vezes recorrendo à citação da antiga política de não interferência em assuntos de outros estados.
Indagado três vezes na semana passada se a China ainda via Maduro como presidente da Venezuela, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Geng Shuang, simplesmente afirmou que um enviado especial do presidente Xi Jinping participou da posse dele, em janeiro.
Na sexta-feira, Geng disse que a China “tem mantido comunicação próxima com todas as partes” e que os laços “não devem ser prejudicados, independentemente de como a situação evoluir”.
A China é a segunda maior importadora de petróleo bruto do país, mas recebe barris como pagamento de dívidas. A Venezuela não tem conseguido enviar uma quantidade de petróleo suficiente para cumprir suas obrigações nos últimos anos porque sua produção e os preços do petróleo despencaram.
Pequim investiu mais de US$ 62 bilhões na Venezuela, a maior parte por meio de empréstimos, desde 2007. No ano passado, importou 3,6 por cento de sua oferta de petróleo do país, contra pouco mais de 5 por cento em 2017.
No meio de uma crise financeira, em setembro passado, Maduro viajou a Pequim para levantar uma linha de crédito de US$ 5 bilhões com sua “irmã mais velha” China. As gigantes chinesas da tecnologia Huawei Technologies e ZTE têm investido fortemente no país.