Uma das principais tarefas de Samaras será renegociar as severas medidas de austeridade contempladas no memorando assinado pelo governo anterior (Milos Bicanski/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2012 às 15h54.
Atenas - Foram necessárias duas eleições, semanas de discussões entre partidos e inumeráveis pressões externas, mas, após um mês e meio de incerteza, a Grécia finalmente tem um governo liderado pelo líder conservador e vencedor das eleições do último domingo, Antonis Samaras.
O chefe do Nova Democracia (ND) tomou posse nesta quarta-feira como primeiro-ministro perante o presidente grego, Karolos Papoulias, e o arcebispo de Atenas e primaz da Grécia, Ieronymos II, após chegar a um acordo de governo com os social-democratas do Pasok e os centro-esquerdistas do Dimar.
"Com patriotismo, união nacional sem fissuras e com a ajuda de Deus, trabalharemos duro para oferecer resultados concretos e esperança ao povo", disse Samaras perante a imprensa logo depois da posse.
Afirmou que está consciente dos problemas que enfrenta como chefe do governo de um país em uma crítica situação e assegurou que está "pronto" para essa tarefa.
As negociações com os dois parceiros de coalizão se prolongaram durante três dias, mas finalmente o ND alcançou o apoio tanto do Pasok (necessário para somar as cadeiras suficientes no Parlamento) como do Dimar, essencial para dar uma maior legitimidade ao Executivo.
Deste modo, os três partidos contarão com 179 das 300 cadeiras do Parlamento (129 do ND, 33 do Pasok e 17 do Dimar), embora as duas formações menores tenham decidido não participar totalmente do novo governo.
"O Pasok participará do Governo com membros extra-parlamentares", disse hoje o chefe do partido social-democrata, Evangelos Venizelos.
O Dimar, por sua parte, participará do Executivo através de "tecnocratas, acadêmicos e membros da sociedade civil".
Embora a lista completa de ministros não tenha sido revelada, os meios de comunicação gregos dão como certo que o novo gabinete terá um claro caráter técnico.
De fato, o nome mais escutado para dirigir o importante Ministério das Finanças é o de um banqueiro particular, Vassilios Rápanos.
Uma das principais tarefas de Samaras será renegociar as severas medidas de austeridade contempladas no memorando assinado pelo governo anterior de Lucas Papademos com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de um empréstimo de 130 bilhões de euros.
Esta foi uma das principais promessas eleitorais do ND, assim como do Dimar - que de fato rejeita o memorando- e, em menor medida, também do Pasok.
O líder do Pasok propôs a criação de uma "equipe forte" liderada por uma personalidade respeitada internacionalmente para que renegocie com Bruxelas os termos pactuados.
Venizelos também pretendia que se unissem a esta equipe negociadora outros partidos gregos que se manterão na oposição, uma oferta que foi taxativamente rejeitada.
"Acreditamos que podemos mudar as coisas para deter a recessão e voltar ao desenvolvimento. Podemos agora mudar todas as condições que fomos obrigados a aceitar por uma maioria europeia conservadora", comentou o líder social-democrata.
Até mesmo os conservadores consideram que agora, após a chegada ao poder de François Hollande na França e das ajudas aos bancos espanhóis com condições menos onerosas que as impostas à Grécia, existem maiores possibilidades de forçar uma renegociação do memorando heleno.
No entanto, a esquerda radical do Syriza, o segundo partido mais votado nas eleições de domingo, denunciou que o novo governo significa a "continuidade das políticas do memorando".
"É um governo conservador com um perfil claro e formado pelas forças responsáveis por servir políticas extremamente neoliberais e anti-sociais", criticou o porta-voz dos esquerdistas, Panos Skurletis, que manifestou ainda suas dúvidas sobre a capacidade negociadora do novo Executivo.
Em entrevista concedida hoje à Efe, o deputado eleito Manolis Glezos prometeu que o Syriza exercerá a oposição ao novo gabinete "no Parlamento e nas ruas".