O premier grego, Alexis Tspiras: a Bolsa de Valores de Atenas reagiu muito mal ao anúncio e operava em queda durante a manhã (Louuisa Gouliamaki/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de junho de 2015 às 12h49.
A Grécia aumentou a pressão na reta final das negociações e adiou uma série de pagamentos ao FMI para garantir um alívio financeiro, ao mesmo tempo em que reiterou as críticas a exigências consideradas "extremas" dos credores.
Atenas, que até então vinha honrando seus pagamentos à instituição com sede em Washington, não reembolsará nesta sexta-feira uma parcela de 300 milhões de euros, obtendo um adiamento de três semanas para reagrupar em um único pagamento que deve efetuar em junho ao FMI, de 1,6 bilhão de euros.
Em 30 de junho, o governo espera poder reembolsar o valor após a liberação da parcela de 7,2 bilhões de euros pelos credores, parte da assistência internacional ao país, em vigor desde 2010.
A Bolsa de Valores de Atenas reagiu muito mal ao anúncio e operava em queda durante a manhã.
Os parceiros da Grécia parecem não ter ficado ofendidos. "É um não problema (...) é legal", respondeu uma fonte europeia próxima às negociações.
A Grécia tinha os recursos para pagar o FMI nesta sexta-feira, assegurou o ministro da Economia, Giorgos Stathakis, em uma entrevista à BBC, mas "é a economia grega que paga os empréstimos há um ano batendo em seus recursos internos", uma situação insustentável.
"Os pagamentos seguintes serão difíceis", estima o economista George Pagoulatos, enquanto o Estado reduziu as despesas públicas a um mínimo nos últimos meses, em uma economia que se esforça para pagar salários, pensões e credores.
O adiamento dos pagamentos ao FMI também é "uma mensagem política interna que mostra que o governo pressionou", disse Panagiotis Petrakis, economista da Universidade de Atenas. Mas um único país, a Zâmbia, recorreu a uma consolidação de pagamento em meados dos anos 1980.
Enquanto isso, a Grécia evita um default com consequências potencialmente explosivas, que pode colocar em risco o seu lugar na zona do euro, e que dá ao governo de esquerda radical uma curta pausa para tentar arrancar algumas concessões de seus credores (UE, BCE e FMI) no programa de reformas que as partes negociam de maneira intensa desde 20 de fevereiro.
Tal como está, os líderes gregos consideram que a última oferta de seus parceiros apresenta "posições extremas" que não podem ser aceitas.
O primeiro-ministro Alexis Tsipras, que deve dar garantias a seu partido e eleitores, deverá discutir esta questão em sessão extraordinária do Parlamento grego.
"Em dois pontos específicos, relativos às metas de ajuste fiscal para 2015 e 2016, não vamos aceitar as medidas propostas", disse Stathakis, alegando que as exigências dos credores sobre estas questões são "novas" e faziam parte das discussões entre as equipes de negociação técnica de ambos os lados.
Depois de uma sessão de trabalho quarta-feira à noite em Bruxelas, com o primeiro-ministro grego, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o principal dirigente econômico da zona do euro, Jeroen Dijsselbloem, o trio deverá se reunir novamente nos próximos dias para tentar resolver suas diferenças.
"Haverá uma tentativa de síntese", antecipa o economista George Pagoulatos. A proposta do governo Tsipras, que está empenhado em aplicar aumentos significativos de impostos, "é um grande passo no sentido de realismo", diz ele.
Neste contexto, Alexis Tsipras manteve nesta sexta-feira uma conversa telefônica com o presidente russo, Vladimir Putin, para abordar a cooperação energética e econômica entre os dois países, segundo um comunicado do Kremlin.
"Foram abordadas questões sobre a cooperação dos dois países nos setores energético e empresarial, visando a participação de Alexis Tsipras na cúpula econômica de São Petersburgo, entre 18 e 20 de junho", indicou o texto.