Economia

Governo tem pelo menos R$ 1 trilhão para proteger Brasil da crise

Valor é quase 40% maior do que o governo tinha às vésperas da crise de 2008

Esse colchão é formando pelo dinheiro que o Tesouro tem em caixa para rolar a dívida pública, os depósitos compulsórios e os dólares das reservas internacionais (Arquivo/Exame/EXAME.com)

Esse colchão é formando pelo dinheiro que o Tesouro tem em caixa para rolar a dívida pública, os depósitos compulsórios e os dólares das reservas internacionais (Arquivo/Exame/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 11 de agosto de 2011 às 20h51.

São Paulo - O governo brasileiro conta hoje com um cordão de isolamento de pelo menos R$ 1,1 trilhão para proteção da economia contra os efeitos de um agravamento maior da crise internacional. Esse colchão é formando pelo dinheiro que o Tesouro Nacional tem em caixa para rolar a dívida pública, os depósitos compulsórios recolhidos pelo Banco Central e os dólares das reservas internacionais. Essa proteção é quase 40% maior do que o governo tinha às vésperas da crise de 2008.

Segundo apurou a Agência Estado, somente no caixa do Tesouro estão depositados cerca de R$ 200 bilhões. Esse dinheiro, que é chamado no jargão econômico de colchão de liquidez, é para ser usado exclusivamente no pagamento de títulos do Tesouro que estão vencendo. Em caso de necessidade, o governo pode parar de ofertar novos papéis em seus leilões semanais para se financiar. Os recursos em caixa são suficientes para o Tesouro ficar sem vender um único título até o final de janeiro, mês em que tradicionalmente há maior concentração de vencimentos de papéis.

Já o dinheiro dos compulsórios - R$ 416,79 bilhões - poderá ser liberado pelo BC para garantir crédito no mercado interno e oferta de recursos em reais na economia, caso os bancos se retraiam e parem de emprestar dinheiro entre si e para os clientes. Já os dólares das reservas (US$ 350,9 bilhões ou cerca R$ 570 bilhões, ao câmbio de hoje) podem garantir leilões de linha de crédito para manutenção das operações de comércio internacional, como foi feito pelo BC em 2008, e evitar desvalorização excessiva do real, que pode impactar a inflação e derrubar mais o crescimento econômico.

O ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, considera importante o Brasil ter defesas reforçadas neste momento de crise e incertezas. Mas avalia que, diferentemente de 2008, esse colchão só será acionado depois que a taxa de juros cair, como forma de preservar a atividade econômica. Segundo ele, o cenário contempla maior preocupação com o nível de atividade e, por isso, apesar de esperar manutenção da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o recurso da queda do juro deve ser o primeiro gatilho a ser acionado pelo governo.


Freitas considera que, na eventualidade de uma piora no quadro dos mercados, a primeira defesa que deverá ser utilizada é a reserva internacional, garantindo liquidez em dólar para o setor exportador e contendo possíveis disparadas do dólar. Os depósitos compulsórios só deverão ser acionados em caso de empoçamento de liquidez (situação em que o dinheiro fica parado nos bancos, sem circular na economia). "O compulsório não será tão importante quanto em 2008", considerou.

Quanto ao colchão de liquidez do Tesouro Nacional, o economista considera que, em caso de alta volatilidade do mercado, essa reserva de recursos permite que o governo passe um bom tempo sem emitir títulos caso o mercado não queira os papéis do Tesouro ou cobre demais para adquirir os papéis. "Mas, se o Banco Central baixar a taxa Selic, certamente os investidores vão correr atrás dos papéis do Tesouro", afirmou, referindo-se aos títulos prefixados (com remuneração fixa definida no leilão).

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