Gasolina: "(Segurar reajustes) seria um custo todo para o Tesouro, que hoje não tem condições de bancar. Temos que ver como a economia anda", disse a fonte (Jeff Pachoud/AFP)
Reuters
Publicado em 30 de maio de 2018 às 20h30.
Brasília - O governo analisou a possibilidade de estender para os demais combustíveis a política de segurar os reajustes uma vez por mês ou a cada 15 dias, para dar mais previsibilidade à população, mas o plano está suspenso, ao menos por hora, por falta de recursos, disse à Reuters uma alta fonte do governo.
A conta feita pelo governo é que a União teria de desembolsar 12 bilhões de reais até o final do ano para incluir gasolina na chamada previsibilidade, e não há espaço fiscal para isso.
"Hoje não existe capacidade financeira para isso. Seria um custo todo para o Tesouro, que hoje não tem condições de bancar. Temos que ver como a economia anda", disse a fonte.
A ideia, que começou a ser discutida antes da crise causada pela greve dos caminhoneiros, incluiria não apenas diesel, mas gasolina e gás. Na semana passada, antes do início da greve, o presidente Michel Temer chegou a se reunir no Palácio do Jaburu com ministros palacianos e da área para tratar do assunto, mas foi atropelado pelo tamanho da crise com os caminhoneiros.
A solução acabou se concentrando apenas no diesel, para responder à paralisação e foi além da ideia inicial de apenas dar previsibilidade aos reajustes, incluindo um desconto no valor atual do combustível, o que custará mais aos cofres públicos do que o planejado.
A fonte admite, no entanto, que as conversas existiram, como se comprovou recentemente por entrevistas dadas pelo ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, e até pelo presidente Michel Temer.
Em entrevista ao jornal O Globo nesta quarta-feira, Moreira Franco falou na criação de um fundo para proteger o consumidor da política de preços da Petrobras . Na terça, em entrevista à TV Brasil, Temer admitiu que o governo poderia rever, "com muito cuidado" a política de preços da estatal.
De acordo com a fonte ouvida pela Reuters, o presidente se referia sim à ideia de dar previsibilidade aos reajustes, em algum momento no futuro, mas nem o governo nem a Petrobras considerariam isso uma interferência na política de preços da empresa.
"A política fica preservada. Quem iria bancar essa previsibilidade seria o Tesouro. Para o presidente da Petrobras o fundamental é que o preço acompanhe os fatores externos, e a política é essa. O Tesouro bancaria eventuais diferenças", disse a fonte.
Uma outra fonte, ligada ao presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse que se o reajuste ocorreria todos os dias, de 15 em 15 dias ou a cada mês não é o essencial, mas sim se a empresa perderia dinheiro com isso. "Se o governo se dispõe a pagar por isso, não é problema", disse.
A menor indicação de que o governo poderia congelar, tabelar ou segurar os preços da Petrobras causam furor no mercado.
Nesta quarta, depois da informação de que Temer havia dito que poderia rever a política de preços --informação confirmada por sua assessoria depois da polêmica causada pela dificuldade de entender claramente a fala do presidente-- as ações da empresa chegaram a cair quase 5 por cento.
Além da declaração de Temer, também na véspera, uma outra fonte palaciana disse à Reuters que não se devia congelar a discussão sobre a política de preços. "Não se pode gerar perdas para a empresa, mas temos que analisar o que pode ser feito", disse.
O valor das ações se recuperou depois de nota da Presidência da República nesta manhã dizendo que tem compromisso com a saúde financeira da empresa e a política adotada para o diesel preserva a política da empresa. Ainda assim, fechou o dia com queda de 1,66 por cento, depois de ter perdido mais de 100 bilhões de reais em valor de mercado nos últimos dias.
A fonte ouvida pela Reuters nesta quarta-feira admite, no entanto, que existe pressão por uma mudança maior na política da empresa, e inclusive pela saída de Pedro Parente. Na semana em que estourou a crise, parlamentares, como o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), pediram a cabeça de Parente. Se somam a essas pressões setores da indústria, que cobram também uma política mais previsível de reajustes.
"Há sim pressões políticas para a revisão, não há dúvida, mas o governo não pode ceder a pressões. A política é essa", disse a fonte, acrescentando que Parente está "firmíssimo" no cargo.
"Ele (Parente) é o grande responsável pela recuperação da Petrobras. O presidente (Temer) não quer que ele deixa o cargo e nem acredito que ele queira sair", disse a fonte.