Economia

Governo pode aceitar inflação maior para manter juros baixos

Para especialistas, a redução de juros como forma de manter a economia aquecida encontrou uma barreira


	BC: em agosto, o IPCA subiu e atingiu 0,41%, acima do 0,37% registrado no mesmo mês de 2011
 (Divulgação/Banco Central)

BC: em agosto, o IPCA subiu e atingiu 0,41%, acima do 0,37% registrado no mesmo mês de 2011 (Divulgação/Banco Central)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de setembro de 2012 às 15h54.

Brasília – A redução de juros como forma de manter a economia aquecida encontrou uma barreira. O comportamento da inflação, que voltou a subir em agosto, ainda não chegou a representar uma ameaça. No entanto, segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil, o governo deverá se ver diante do risco de aceitar preços mais altos para evitar que a atividade econômica desacelere.

Mesmo com as pressões inflacionárias, os economistas defendem a manutenção da política monetária, que reduziu a Selic, taxa básica de juros, para o menor nível da história. Eles acreditam que a recuperação econômica resultante das medidas de estímulo compensará a alta da inflação. Isso porque o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá fechar o ano abaixo de 2011, quando atingiu 6,5% e bateu no teto da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Em agosto, o IPCA subiu e atingiu 0,41%, acima do 0,37% registrado no mesmo mês de 2011. Nos últimos 12 meses, o índice está em 5,24%, pouco acima dos 5,2% observados nos 12 meses anteriores. O valor está acima das estimativas do mercado. Segundo o último boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgadas pelo Banco Central, o IPCA deverá fechar 2012 em 5,2%.

O economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que as estimativas para o fechamento da inflação este ano já estiveram abaixo de 5%. Ele aposta que o IPCA ficará em torno de 5,5% ao fim de 2012, mas diz que esse nível não ameaça o poder de compra das famílias. “O que não dá para admitir é acima de 6,5%, teto da meta, pois aí os mecanismos começam a se fragilizar e combater o processo inflacionário fica difícil”, declara.

André Braz ressalta que os reajustes salariais têm ficado acima da inflação, o que assegura a manutenção do poder aquisitivo. “Uma referência é o salário mínimo, que tem apresentado aumentos reais, acima da inflação acumulada. No ano passado, subiu 14%, com inflação de 6,5%. Hoje está em R$ 622 e estão querendo aumentar em torno de 8%. A inflação com certeza ficará abaixo disso”, comenta.

Para André Braz, as medidas tomadas pelo governo para prevenção dos efeitos da crise – redução dos juros, câmbio favorável às exportações e desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) – ainda não se fizeram sentir com força total, mas devem surtir efeito no médio prazo. “Decisões levam um tempo para fazer seu papel na economia real. A redução [de juros] de nove meses atrás está chegando agora ao mercado. A preocupação maior é manter o emprego, a renda das famílias, ainda que haja um risco”, diz.


O economista Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), também considera o movimento de queda dos juros salutar para a economia. “Na crise, mais importante do que a inflação é preservar empregos, não deixar ter recessão. Depois que [o país] crescer, o governo deve voltar a se preocupar com a inflação”, avalia.

Assim como André Braz, ele atribui a lentidão de setores da economia em reagir aos estímulos a um tempo de maturação necessário para que as medidas surtam efeito. “É um processo gradativo, o número de investimentos caiu em função da crise. A expectativa é que no segundo semestre comece a melhorar, e vejamos um resultado pleno só no ano que vem”, acredita.

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraInflaçãoJuros

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto