Economia

Governo passa a ver crescimento de 0,02% no Brasil em 2020

Previsão menor de crescimento incorpora os impactos da pandemia de coronavírus esperados no país

 (Adriano Machado/Reuters)

(Adriano Machado/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 20 de março de 2020 às 15h00.

Última atualização em 20 de março de 2020 às 20h26.

O governo brasileiro anunciou nesta sexta-feira, 20, um corte grande de expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020, que foi para uma leve alta de 0,02% ante um avanço esperado em 2,1% na semana passada .

A previsão menor de crescimento incorpora os impactos da pandemia de coronavíorus esperados na atividade produtiva, e foi divulgada em relatório de receitas e despesas bimestrais da União.

A expectativa do governo é que a crise seja concentrada no primeiro e no segundo trimestre, de acordo com o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida: "Tomando as medidas corretas, porém, esperamos que, após isso, seremos capazes de gerar uma retomada no segundo trimestre, disse a jornalistas em entrevista coletiva.

O secretário acrescenta que a última vez que o mundo viu um cenário como o atual vimos foi há 100 anos, durante a gripe espanhola. "Foram seis circuit brakers na Bolsa brasileira no intervalo de oito pregões", diz.

O relatório divulgado hoje traz a necessidade de um contingenciamento de R$ 37,523 bilhões no Orçamento, já que mostra um rombo nas contas públicas estimado em R$ 161,623 bilhões. A paralisação dos gastos, porém, não será necessária, já que o governo pediu que o Congresso aprovasse o cenário de calamidade pública no país. O decreto foi aprovado hoje pelo Senado.

Como os cálculos de contingenciamento foram feitos com base num PIB 2,1% maior no ano, "essa necessidade seria ainda maior, se não houvesse o pedido ao Congresso", diz o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues.

O cenário emergencial desobriga o governo de respeitar a meta fiscal de R$ 124,1 bilhões. Vale ressaltar que a União continua tendo que respeitar a regra do teto de gastos, que limita o avanço das despesas à inflação, e a regra de ouro, que proíbe a emissão de dívida para bancar despesas correntes.

Com menos de 94% disponível para investimentos discricionários no Orçamento, o governo se viu obrigado a recorrer à Lei de Responsabilidade Fiscal e pedir ao Congresso permissão para flexibilizar seus limites de gastos para anunciar políticas de combate aos impactos do surto no país.

Na conta da equipe econômica, as medidas tomadas até agora já chegam a R$ 186 bilhões.

Durante a coletiva, Waldery disse também que as receitas do governo sofrerão o impacto da revisão dos parâmetros econômicos.

O preço do barril de petróleo, por exemplo, que copõe parte das receityas federais, foi revisado de US$ 52,70 para US$ 41,87. Esse número é otimista e tende a cair mais.

Outra mudança importante nas expectativas para a receita é ligada à privatização da Eletrobras, que renderia R$ 16,2 bilhões aos cofres públicos, mas não está sendo mais considerada no relatório de receitas. Ao todo, a arrecadação com concessões foi reduzida em R$ 16,341 bilhões. Já as receitas com dividendos caiu R$ 3,52 bilhões.

Do lado dos gastos, o governo incluiu uma previsão de R$ 7,672 bilhões em créditos extraordinários por conta da crise do novo coronavírus. Também subiram as previsões com gastos de pessoal (R$ 3,342 bilhões) e com Previdência (R$ 5,3 milhões).

As revisões não param

As previsões econômicas em todo o mundo vêm derretendo nas últimas semanas em meio ao aumento dos casos da doença no mundo, sobretudo na Europa, onde o número de mortos na Itália já ultrapassou o da China.

O país asiático anunciou ter controlado a disseminação da doença no país nesta semana. Até que outros países consigam seguir o exemplo, no entanto, pode ser que tenha passado meses. Enquanto isso, bancos e instituições financeiras correm para traduzir em números a rápida deterioração dos cenários global e local.

O Itaú, que anunciou novos cálculos nesta sexta, espera que país cresça apenas 0,7% em 2020 ante uma alta de 1,8% prevista anteriormente. 

Nesta semana, o UBS revisou sua previsão para um crescimento de 0,5% no ano após os riscos crescentes de recessão global, restrições de mobilidade e medidas de distanciamento social que, segundo o banco, levam suas previsões a considerarem um cenário de “pandemia severa”.

No começo do ano, assim como grande parte do mercado, a expectativa do UBS era que a economia brasileira crescesse 2,5%. O número caiu para 2,1% no início de fevereiro e para 1,3% no início de março até chegar no nível atual. Novos cortes não estão descartados, mas há melhora no radar: “Nossas expectativas atuais pressupõem que atingimos algum ponto de inflexão até o final do segundo trimestre”, disse o banco em relatório.

A Guide Investimentos reduziu de 1,6% para 0,7% sua expectativa para o avanço do PIB, destacando os efeitos que a pandemia na atividade e a pouca coordenação das ações que estão sendo anunciadas pelo governo brasileiro diante da situação. “Nossa nova estimativa é de fato tão ruim quanto parece”, disse a gestora em relatório.

O Santander também atualizou seus cálculos nesta semana e agora vê uma alta de 1% no PIB de 2020 ante os anteriores 2%. A instituição vê risco de recessão no Brasil no segundo semestre, com retração de 0,2% na economia no primeiro trimestre e de 0,4% no segundo. A atividade voltaria a crescer, segundo o banco, nos três meses seguintes.

Atualmente, a previsão do mercado financeiro, reunida pelo Banco Central, converge para uma mediana de 1,68%, mas os números têm sido revisados semanalmente para baixo.

(Com informações de Estadão Conteúdo)

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