O ministro da Fazenda, Guido Mantega: "Não permitiremos uma valorização especulativa do real e isso veio para ficar" (Valter Campanato/ABr)
Da Redação
Publicado em 30 de janeiro de 2013 às 16h00.
Brasília - A recente desvalorização do dólar, cotado abaixo de 2 reais pela primeira vez em cerca de sete meses, não implica derretimento da moeda norte-americana e tampouco é uma estratégia para conter a alta dos preços no Brasil, afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
"O câmbio não irá derreter", disse Mantega nesta quarta-feira a jornalistas, acrescentando que a taxa poderá flutuar dentro de um patamar que não cause prejuízo à indústria nacional. Para ele, uma variação entre 1,98 real e 2,03 reais não é "muito importante" e indica estabilidade.
O dólar voltou a ser cotado abaixo de 2 reais logo na abertura das operações de terça-feira, o que não ocorria desde julho do ano passado.
Em novembro de 2012, Mantega havia dito que o patamar de 2 reais por dólar "veio para ficar". Apesar disso, o ministro insistiu nesta manhã que a política cambial é a mesma.
"Não permitiremos uma valorização especulativa do real e isso veio para ficar. Aviso aos navegantes: isso veio para ficar. Não se entusiasmem porque isso (a valorização especulativa) não vai acontecer." Os comentários do ministro chegaram a influenciar a cotação da moeda norte-americana, que rompeu brevemente os 2 reais. Mas o dólar desacelerou a alta após o Banco Central anunciar leilão de venda de dólares com compromisso de recompra. Às 15h44, a divisa norte-americana tinha alta de 0,19 por cento, vendida a 1,9885 real.
"O importante é estabilidade sem muita volatilidade, porque atrapalha o exportador. Nos últimos seis meses, teve grande estabilidade do câmbio, isso não quer dizer que fique fixo, ele tem flutuação", disse Mantega.
INFLAÇÃO
Mantega também rejeitou que a desvalorização recente do dólar indique uma preocupação com a inflação. "(O câmbio) não é instrumento de política monetária para baixar preços. O único instrumento é o juro e outros mecanismos que o Banco Central pratica", afirmou. "Se o câmbio ficar estável, ele não gera inflação." Segundo ele, a influência do câmbio nos preços foi maior em 2012 porque o real perdeu cerca de 20 por cento de seu valor. Com as cotações mais estáveis agora, o impacto na inflação é minimizado. "Dos 5,8 por cento de inflação do ano passado, 0,4 ou 0,5 (ponto percentual) foi pelo câmbio", disse o ministro.
Em janeiro, até o dia 29, o dólar acumula desvalorização de 3 por cento.
Os preços ao consumidor iniciaram o ano mais pressionados e alguns analistas avaliam que a inflação oficial em 12 meses entre abril e maio poderá desafiar o teto da meta de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos para cima e para baixo.
Apesar de o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) ter desacelerado em janeiro sobre dezembro, os preços ao consumidor subiram 0,98 por cento no mês, contra 0,73 por cento na leitura anterior.
GASOLINA
A inflação terá mais um componente de pressão com o reajuste pela Petrobras nas refinarias dos preços da gasolina e do diesel, de 6,6 e de 5,4 por cento, respectivamente, a partir desta quarta-feira.
Segundo Mantega, o valor da gasolina nos postos de combustível deverá subir 4,4 por cento, resultando num impacto de 0,16 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2013.
O reajuste que chegará às bombas é menor devido à mistura do etanol na gasolina, entre outros fatores, como as margens das distribuidoras.
Em outras oportunidades que a gasolina subiu nas refinarias, o governo reduziu a Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) para evitar repasses ao consumidor. Mas no reajuste anterior pela Petrobras a Cide foi zerada, tanto para a gasolina como para o diesel.
Mantega disse que o governo está estudando elevar a mistura do etanol na gasolina, mas não se comprometeu com uma data para fazer o anúncio. Um aumento da mistura de 20 para 25 por cento, por exemplo, poderia atenuar a alta da gasolina nas bombas.
O ministro esquivou-se de responder se o aumento dos combustíveis agora será o único deste ano. Disse apenas que novos reajustes vão depender do preço internacional do petróleo.
"É o último aumento da gasolina nesta semana", afirmou Mantega, em tom de brincadeira. "No ano passado, demos mais de um aumento. Não significa que este ano faremos o mesmo."