Leilões: o ministro de Minas e Energia disse após o certame que os principais vencedores desta segunda-feira foram empresas conhecidas no setor e já com forte presença no país (Kostas Tsironis/Bloomberg/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 24 de abril de 2017 às 19h30.
São Paulo - O governo federal avaliou como um sucesso o leilão de concessões para construção de linhas de transmissão de eletricidade desta segunda-feira, que atraiu investidores para implementar 12,7 bilhões de reais em empreendimentos, e minimizou preocupações do mercado quanto à possibilidade de algumas empresas terem dificuldade para implementar os projetos devido aos agressivos descontos oferecidos na licitação.
A licitação teve um significativo deságio médio de 36,47 por cento em relação às receitas máximas oferecidas por cada projeto, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Mas algumas empresas levaram lotes oferecendo um desconto de mais de 50 por cento.
No salão da bolsa B3 (ex-BM&FBovespa), onde aconteceu o certame, executivos de elétricas e de fornecedores de equipamentos e serviços do segmento acompanhavam com um misto de curiosidade e preocupação os expressivos deságios apresentados pelos investidores para alguns projetos, que chegaram a quase 60 por cento da receita máxima em dois lotes.
Os temores quanto a possíveis problemas na construção das linhas vêm após o setor ver as espanholas Abengoa e Isolux enfrentarem dificuldades financeiras depois de terem arrematado diversos lotes de projetos de transmissão com descontos significativos nos últimos anos.
As empresas acabaram paralisando obras e se tornaram alvo de processos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para revogação das concessões.
O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, disse em coletiva de imprensa após o certame que os principais vencedores desta segunda-feira foram empresas conhecidas no setor e já com forte presença no país, o que reduz riscos de os empreendimentos não serem entregues ou atrasarem.
"Risco sempre tem, mas se você olhar de forma geral, em mais de 80 por cento (dos lotes) a qualidade das empresas... são empresas conhecidas de vocês, nossas, que não estão nisso pela primeira vez, já entregaram uma série de empreendimentos, estão mais que enraizadas no mercado brasileiro", avaliou o ministro.
Ele disse ainda acreditar que as empresas foram comprometidas e agiram com cautela em seus lances no certame.
"Elas foram muito seguras do lance que estavam dando, então tenho plena convicção de que vai dar tudo certo."
O secretário de Articulação de Investimentos de Parcerias do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal, Marcelo Allain, também disse acreditar que os deságios foram fruto de estratégias das empresas para reduzir custos aproveitando sinergias dos projetos com suas operações, e que os descontos não influenciarão negativamente na viabilização das linhas de transmissão.
O diretor da Aneel José Jurhosa disse que a agência confia na capacidade das empresas de entregar os projetos, mas garantiu que haverá um acompanhamento dos empreendimentos para evitar surpresas.
"Temos dentro da agência uma metodologia que já está implantada, a gestão dos contratos de concessão, e isso proporciona que a gente acompanhe pari passu todos os novos leilões, todos os novos entrantes", declarou ele.
"Temos feito visitas a essas empresas, principalmente aquelas que ainda não tiveram contrato com a Aneel... também para ver como está a engenharia financeira delas. A cada três meses trazemos as empresas para conversar, para identificar com bastante antecedência problemas que possam levar a um atraso", acrescentou.
Entre as vencedoras do leilão desta segunda-feira chamaram a atenção a indiana Sterlite Power Grid, estreante no Brasil, e empresas pouco conhecidas no setor, como RC Administração e Participações e Arteon Z Energia, que arremataram dois lotes cada uma.
Uma das propostas da Sterlite representou um deságio de 58,86 por cento.
Segundo o superintendente de gestão da transmissão da Aneel, Ivo Nazareno, uma equipe de especialistas da companhia indiana passou os últimos meses no Brasil realizando estudos para preparar a participação da companhia na licitação desta semana, o que faz a agência entender que o grupo está preparado para desenvolver os projetos.