Salim Mattar: secretário especial de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia. (Amanda Perobelli/Reuters)
Carla Aranha
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 11h53.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 15h58.
O ex-secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Salim Mattar, disse nesta quarta, 12, que o governo é “muito lento” e não consegue imprimir a velocidade desejada aos processos de privatização. Mattar anunciou sua demissão nesta terça, 11. Em entrevista à GloboNews nesta quarta, o ex-secretário também afirmou que não se adaptou à burocracia da máquina pública.
“A gestão social-democrata dos últimos 20 anos criou um emaranhado legal que dificulta a venda de qualquer coisa”, disse. “Pelo menos 15 instituições, entre elas a Casa Civil, o BNDES e o Tribunal de Contas da União, precisam dar um parecer sobre a venda de estatais”.
Como tem feito desde terça, Mattar destacou a importância de seu legado. “Deixo a privatização de 14 estatais encaminhada para o ano que vem”, afirmou. Ele também elogiou o ex-chefe, o ministro Paulo Guedes. “Sempre tive apoio incondicional do ministro da economia e não saio frustrado, pois consegui vender 134 empresas que captaram 150 bilhões de reais”.
Mattar citou, no entanto, a resistência do Congresso em aprovar a medida provisória 902, de 2019, sobre a privatização da Casa da Moeda. A MP acabou perdendo a validade. O ex-secretário defendeu, durante a entrevista à GloboNews, a privatização em massa das estatais. “Se vendêssemos o Banco do Brasil, a Petrobrás e todas as outras empresas públicas teríamos 1 trilhão de reais em caixa, o que resolveria todos os nossos problemas em relação à crise do coronavírus e ainda sobraria dinheiro”, afirmou.
O secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, também pediu demissão na terça, elevando para seis o número de baixas da equipe de Paulo Guedes nas últimas semanas. O ministro disse que Salim deixou o governo por estar insatisfeito com o ritmo das privatizações e que Uebel pediu exoneração por discordar da postergação da reforma administrativa para o ano que vem.
O mercado não viu com bons olhos a demissão dos secretários, principalmente de Mattar, que administrava uma pasta-chave no ministério da economia. “A saída não é positiva. Infelizmente, saiu um remador. Vamos colocar outro, para o melhor da não sempre. Isso não pode virar recorrência, assusta um pouco, tenhamos atividade e não passividade”, disse Marco Tulli, chefe das mesas de operações da corretora Necton, em entrevista à EXAME.