Economia

Governo acusa bancos de frear economia

A equipe econômica do governo avalia que os bancos enxugaram a oferta de crédito nos últimos meses, o que freou a economia.


	Na avaliação dos economistas do governo, desde o início do ciclo de alta da Selic, em abril de 2013, os bancos têm sido mais restritivos do que indicava a política de juros do Banco Central
 (USP Imagens/Agência USP)

Na avaliação dos economistas do governo, desde o início do ciclo de alta da Selic, em abril de 2013, os bancos têm sido mais restritivos do que indicava a política de juros do Banco Central (USP Imagens/Agência USP)

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Da Redação

Publicado em 5 de setembro de 2014 às 08h30.

Brasília - O governo está incomodado com o que considera um "excesso de conservadorismo" dos bancos nas operações de financiamento e culpa o setor financeiro por uma parcela do resultado negativo na economia.

A equipe econômica avalia que os bancos enxugaram a oferta de crédito nos últimos meses, o que freou a economia.

Na avaliação dos economistas do governo, apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, desde o início do ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), em abril de 2013, os bancos têm sido mais restritivos do que indicava a política de juros do Banco Central.

Desde o início da alta da Selic, o chamado spread médio dos bancos nas operações de crédito para pessoa física cresceu 6,3 pontos porcentuais até julho deste ano.

Nesse período, a Selic teve alta de 3,75 pontos porcentuais. Spread é a diferença entre o que banco paga na captação do dinheiro e o que cobra no empréstimo.

Nesse intervalo de 15 meses, mesmo em um cenário de recuo da inadimplência, o crescimento anual do estoque de crédito em operações com empréstimos a juros de mercado desacelerou de 9,2% até abril de 2013 para 5% até julho deste ano, mostram os dados do governo.

Nos bastidores, o governo diz que gostaria de ver uma "iniciativa maior" dos bancos. Até porque, segundo outra fonte da equipe econômica, o setor financeiro tem recebido a ajuda necessária.

Um exemplo de estímulo, segundo disse a fonte, são os leilões de swap cambial que o governo tem oferecido há pouco mais de um ano. Essas operações são uma proteção (hedge, no jargão financeiro) em que o Banco Central "troca" a variação da cotação do dólar pela da taxa de juros, o que tem ajudado a repartir os riscos da instabilidade do câmbio com o setor financeiro, e também produtivo.

A Federação Brasileira dos bancos (Febraban) informou que não vai comentar a avaliação do governo. A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) não respondeu à reportagem.

"Arredios"

O estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, diz que é necessário considerar, nessa avaliação, que houve expansão do crédito sobre o Produto Interno Bruto (PIB) na última década. "É natural que os bancos estejam mais arredios agora. Depois de toda a expansão, eles ficam mais expostos. Agora, a economia está mais alavancada (com mais dívidas) do que há dez anos."

Gala avalia que as medidas de estímulo ao crédito divulgadas pelo governo nas últimas semanas "vão na direção correta", mas não chegam a mudar essa estrutura.

A economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, diz que os bancos tentarão expandir "com cautela" a carteira de crédito depois das recentes medidas do governo para estimular o mercado de crédito.

"No caso de automóveis, eles tentarão conquistar o consumidor que poderia comprar o carro à vista", diz. Ela lembra que, além do cenário de política monetária "contracionista" ainda refletindo no crédito, outro importante componente para explicar a retração dos bancos é a perspectiva com a economia.

"Os bancos levam em conta uma expectativa de economia pouco aquecida e a piora do mercado de trabalho. Então, é um movimento natural ficar mais seletivo", argumenta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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