Reais (Marcos Santos/USP Imagens)
João Pedro Caleiro
Publicado em 24 de fevereiro de 2016 às 16h20.
São Paulo - A economia brasileira "pode piorar ainda mais antes de melhorar" e o risco de calote aumentou, de acordo com o banco americano Goldman Sachs.
"Há uma percepção crescente nos analistas e investidores locais de que o Brasil está em uma trajetória que eventualmente levaria à insolvência fiscal no médio prazo, e a maior preocupação é que as autoridades ainda não mostraram uma forte vontade ou a força política para lidar de forma bem-sucedida com estes desafios crescentes".
O texto assinado por Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina, resume as conclusões de uma visita de três dias ao país que incluiu encontros com autoridades, analistas e outras figuras de relevo.
O cenário traçado para 2016 é de queda do PIB entre 3% e 4%, inflação acima de 7%, dólar entre R$ 4,30 e R$ 4,40 e aumento do desemprego para dois dígitos, o que é "socialmente e politicamente desafiador".
Fiscal e político
Com a rigidez do gasto e resistência a novos impostos, enfrentar o problema fiscal será "muito difícil" e a perspectiva para reformas de médio prazo são "sombrias", diz o banco.
A previsão é de um novo déficit de até 1% do PIB em 2016 com a dívida pública chegando a 80% do PIB em 2016, algo que o governo vê com "perturbadora falta de urgência", diz o texto.
Isso sem falar nos riscos e incertezas gerados pela Operação Lava Jato e pela batalha do impeachment, com possibilidade de anulação da eleição pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O banco não espera que a presidente seja retirada, mas também não vê mais a eleição presidencial de 2018 como ponto inequívoco de esperança:
"Dado o desencantamento e a rejeição ao status-quo político, os locais veem um risco crescente da emergência de um candidato populista outsider de fora do establishment."
O relatório divulgado ontem já previa o rebaixamento pela Moody's, confirmado hoje, e também destaca dois pontos positivos do momento atual: a melhora das contas externas e a resiliência do nível de investimento estrangeiro direto.