Mulheres: Renata, Pricilla, Sarah e Selene falam do desafio de estarem em um ambiente majoritariamente masculino (Montagem EXAME/Divulgação)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 8 de março de 2024 às 15h43.
Última atualização em 8 de março de 2024 às 16h33.
Em quatro das 27 secretarias estaduais da Fazenda ou da economia, o desafio vai além da boa gestão das contas públicas — ele esbarra no machismo. Em Alagoas, Sergipe, Goiás e Rio Grande do Sul são mulheres que comandam a pasta que define os rumos econômicos dos estados.
"Eu tenho experiência de 15 anos com finanças públicas. É difícil ser mulher nesse mundo da economia. Percebi isso desde a faculdade, quando havia poucas meninas na minha turma", afirma Sarah Tarsila, titular da Fazenda em Sergipe. " Já estamos acostumadas com alguns comentários que subestimam nosso trabalho."
Em três dos quatro estados, essa é a primeira vez que uma mulher assume esse posto. Apenas Alagoas já teve uma mulher como chefe da Fazenda, a advogada tributária Fernanda Vilela em 2007, durante o governo de seu irmão, Teotônio Vilela Filho.
"Muitas mulheres têm questões como maternidade e família. Eu mesmo neguei o governador na primeira vez que recebi o convite. E isso é porque infelizmente nós não somos criadas para o público, nós somos criadas para o privado", diz Renata Santos, secretária da Fazenda de Alagoas.
No Rio Grande do Sul, estado com enorme desafio fiscal, Pricilla Santana valoriza o momento que, que segundo ela, seria quase impossível em décadas atrás.
"Sou a primeira a assumir a Fazenda, mas sei que não serei a última. Afinal, desafios existem e obviamente continuarão a existir, mas estamos trilhando um caminho no qual aptidões, talentos, experiências e formação devem ser cada vez mais relevantes do que o gênero no mercado de trabalho", diz Pricilla.
Única das três que é secretária da economia, em uma pasta que inclui o planejamento e a fazenda, Selene Nunes aponta que a sociedade ainda tem enorme dificuldade em aceitar mulheres em posição de comando.
"Isso é um desafio que tem que ser vencido diariamente, com muito empenho, com muita dedicação e com muito profissionalismo. Eu quero parabenizar as minhas colegas secretárias de fazenda que atuam comigo", afirma Nunes.
Renata Santos, de Alagoas, revela que está desde 2015 na equipe econômica do estado, quando trabalhava como secretária do Tesouro. Em 2023, assumiu a Fazenda de forma definitiva. Em nove anos, Santos diz que o estado melhorou a nota de bom pagador com o Tesouro Nacional, realizou reformas da previdenciária e tributária, e realizou uma reestruturação fiscal.
"Hoje, o estado é financeiramente sustentável. A nossa nota com o Tesouro passou de D para B, e estamos com menos de 100% do endividamento [da relação dívida/PIB]. Temos as contas muito bem controladas", explica Santos.
Entre os desafios, a secretária de Alagoas elenca o débito histórico com a população mais pobre e as mudanças da reforma tributária.
"A reforma tributária é muito boa, e vai nos ajudar por sermos um estado dito consumidor. Por isso, todo o dinheiro que for utilizado em compras vai ficar em Alagoas. A questão é que vai acabar com o incentivo fiscal. Por isso, precisamos investir no estado para continuar atraindo empresas", diz.
Na mesma linha, Sarah Tarsila revela que Sergipe tem o desafio de aumentar a sua participação no PIB brasileiro. Para isso, a secretária implementou medidas para aumentar em 10% a arrecadação do ICMS e teve o crescimento de despesas correntes abaixo da inflação, e espera que a reforma tributária favoreça o estado.
"Quando você sai de uma situação muito difícil, de uma base mais baixa, existe uma oportunidade de crescimento. Estamos nesse momento agora, com uma oportunidade de crescimento. Somo um estado pequeno e muito bem localizado", diz Tarsila.
Primeira secretária da Fazenda do estado em 133 anos, Pricilla Santana aponta que o seu grande desafio para o Rio Grande do Sul, a terceira maior economia do país, é superar a queda de arrecadação e ajustar os termos da dívida com a União. O governo gaúcho solicita junto ao Ministério da Fazenda que o cálculo do juro da dívida seja alterado para evitar uma trajetória considerada "insustentável" pela administração estadual.
"Queremos propor novos encargos para a dívida e recompor a arrecadação no futuro para investimentos e a adequada oferta de serviços públicos à população. Nosso foco é buscar a sustentabilidade das contas públicas agora e para os próximos anos, contribuindo para o desenvolvimento do Estado e do Brasil", diz Pricilla.
Em Goiás, Selene Nunes diz que os esforços da pasta é aliar a responsabilidade fiscal e a social, com resultados expressivos. Nos últimos meses, o governo estadual alcançou reconhecimento de transparência pelo Tesouro Nacional e ganhou o prêmio de estado com maior potencial de crescimento.
"A nossa liquidez aumentou muito, em comparação com o que nos deparamos em 2019. Conseguimos ajustar a despesa de pessoal e tivemos ganhos na gestão da dívida pública com alívio de quase R$ 17 bilhões no fluxo de caixa do estado e aumentamos a arrecadação. Além de tudo, elevamos o patamar de investimentos, com Goiás sendo o estado com maior volume investido entre todos as unidades da federação", diz Nunes.
O equilíbrio financeiro é parte do desafio diário dessas gestoras. O equilíbrio de gênero, também.