Economia

Geadas no Paraná podem elevar importação de trigo

Com a eventual quebra da produção, país, que enfrenta no momento uma escassez e preços em patamares elevados, teria que ampliar as compras externas

Produção de trigo: Ministério de Agricultura previu no início do mês que o Paraná poderia produzir 2,7 milhões de toneladas (Adriano Machado/Bloomberg)

Produção de trigo: Ministério de Agricultura previu no início do mês que o Paraná poderia produzir 2,7 milhões de toneladas (Adriano Machado/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2013 às 16h44.

São Paulo - Geadas previstas para os próximos dois dias no Paraná, maior produtor de trigo do Brasil, poderão afetar a qualidade da colheita e reduzir o volume produzido, levando o Brasil buscar uma quantidade ainda maior do produto em países do Hemisfério Norte neste ano, disseram nesta terça-feira um corretor e um executivo da indústria.

O Simepar, instituto de meteorologia do Paraná, prevê geadas em praticamente todo o Estado, inclusive na faixa norte, onde a ocorrência do fenômeno é menos corriqueira, com a mais forte massa polar dos últimos anos avançando sobre as lavouras paranaenses na quarta-feira e na quinta-feira.

O Ministério de Agricultura previu no início do mês que o Paraná poderia produzir 2,7 milhões de toneladas, de um total de 5,6 milhões que o país espera colher este ano.

Com a eventual quebra da produção, o Brasil, que enfrenta no momento uma escassez de trigo e preços em patamares elevados, teria que ampliar ainda mais as compras externas.

"Por mais que não tenhamos um frio muito forte, alguma coisa (da safra) vai pegar, e vai precisar importar trigo de qualidade para mesclar", afirmou um corretor em Campo Mourão, onde o céu abriu nesta terça-feira, favorecendo a ocorrência de geadas na próxima noite.

Segundo o corretor, que pediu para não ser identificado, o problema climático poderia levar o Brasil a importar pelo menos 1 milhão de toneladas adicionais neste ano, além do projetado, considerando que boa parte do cereal paranaense está vulnerável a geadas.


O país já tem recorrido ao trigo de fora do Mercosul para complementar as necessidades internas, após uma quebra de safra no Brasil e nos países do bloco econômico, especialmente na Argentina, que reduziu o plantio na temporada passada.

Por conta dessa escassez, o governo autorizou até o final de agosto uma cota de 2 milhões de toneladas de importações isentas da tarifa de 10 por cento para o trigo cultivado fora do Mercosul.

"Creio que o governo vai abrir mais uma quantidade e aumentar a janela (o período de importação sem tarifa), se isso (a quebra pelas geadas) de fato acontecer", comentou o corretor.

Para um executivo de um moinho de São Paulo, principal região produtora de farinha de trigo do Brasil, provavelmente o governo vai permitir uma cota maior de importação, no caso de ocorrer uma quebra de safra, considerando a atual situação do mercado interno e os preços, nos mais altos patamares da história, que elevam a preocupação com a inflação.

A cota de importação isenta de tarifa já foi quase toda tomada pelo moinhos. "Nas minhas contas, faltam apenas 100 mil toneladas (dos 2 milhões da cota)", disse o executivo, preferindo não ser identificado.

Após uma quebra de safra na Argentina e no Brasil no ano passado, os preços do cereal atingiram patamares recordes recentemente. A última cotação do trigo do Paraná, da safra nova (que ainda não foi colhida), indicou 800 reais por tonelada, disseram corretores.


Atualmente, não há negócios, pois produtores evitam fechar acordos temendo não ter condições de entregar o trigo com a qualidade acertada.

Pizza mais cara

A nova safra brasileira só começa a chegar ao mercado com mais intensidade em setembro. Já a nova colheita da Argentina, principal fornecedor do Brasil, deverá atrasar este ano, após problemas no plantio, e só estará disponível a partir de dezembro.

Considerando que a oferta também está escassa na Argentina, os moinhos argentinos ficariam com as primeira colheitas, e somente em janeiro o Brasil teria maiores volumes disponíveis em seu principal fornecedor, estimou o executivo, ressaltando a importância da safra brasileira neste momento.

Mesmo que o governo não reduza a tarifa, os moinhos do Nordeste deverão continuar comprando o produto no Hemisfério Norte, especialmente dos Estados Unidos e Canadá, pagando mais.

"O Nordeste vai continuar comprando, calculando que vai pagar o imposto. Se a pizza estava cara, vai ficar mais cara", acrescentou.

O Brasil conta com uma recuperação da safra neste ano para reduzir suas importações, após uma quebra de mais de 20 por cento em 2012, que resultou em uma colheita 4,4 milhões de toneladas.

O Ministério da Agricultura estima importações de 6,8 milhões de toneladas para o atual ano-safra (2013/14), contra 7 milhões de toneladas no ano anterior. A projeção, no entanto, foi realizada antes da previsão das geadas.

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