Gabriel Galípolo: segundo ele, no Brasil há uma maior resiliência maior da atividade econômica, com mercado de trabalho mais apertado (Lula Marques/Agência Brasil)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 26 de agosto de 2024 às 11h10.
Última atualização em 26 de agosto de 2024 às 11h12.
O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira, 26, que "todas as alternativas na mesa" estão disponíveis para que os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) tomem uma decisão na próxima reunião, marcado para 17 e 18 de setembro. Na prática, ele sinalizou que o BC não descarta uma alta de juros. A declaração foi dada durante participação no evento em comemoração aos 125 anos do Tribunal de Contas do Estado do Piauí, em Teresina.
"Vamos consumir os dados, a cada reunião do Copom, para analisar como a economia está avançando e poder tomar nossas decisões a partir disso. Nesse ciclo tem dados relevantes de mercado de trabalho, atividade econômica e inflação até a próxima reunião que pretendemos consumir. Ficamos dependentes de dados e abertos, com todas as alternativas na mesa, de politica monetária, para que a gente possa chegar no Copom e tomar nossa decisão", disse.
Segundo Galípolo, a função do BC é ser "mais cauteloso", em função dos dados que sinalizam que a economia brasileira está em um estágio distinto da economia dos Estados Unidos, que parece dar sinais de moderação.
"Enquanto aqui [no Brasil] nós assistimos uma maior resiliência maior da atividade econômica, com mercado de trabalho mais apertado. Por isso o BC assumiu uma posição mais conservadora, interrompeu seu ciclo de cortes e ficou dependente de dados", afirmou.
Como mostrou à EXAME, a queda no preço do dólar e a redução das expectativas de inflação para 2025 nas últimas semanas decorreram da precificação pelo mercado de que os juros subirão na próxima reunião do Copom.
Além de adotar uma comunicação mais forte na última ata do Copom, o BC escalou Galípolo, para reforçar a mensagem de que os juros subiriam se fosse necessário. O diretor de Política Monetária é cotado para ser o próximo presidente da autoridade monetária. Muitos interpretaram as falas do diretor como uma resposta aos questionamentos sobre como seria sua gestão: alinhada ao PT ou pautada por decisões técnicas e que podem desagradar o governo.
Segundo agentes de mercado brasileiros e estrangeiros ouvidos pela EXAME nos últimos dias, se o BC não subir os juros após uma sinalização tão explícita, o impacto sobre a credibilidade e sobre o preço dos ativos tende a ser forte. "O risco é de o dólar, que caiu de R$ 5,65 para R$ R$ 5,40, ultrapassar os R$ 6,00", resumiu um deles.