São Paulo - O ponto de alento das declarações do presidente do BCE, Mario Draghi, foi preparar o caminho para que a Espanha peça ajuda ao fundo europeu de resgate, disse Monica Baumgarten de Bolle, sócia-diretora da consultoria Galanto e diretora do Instituto Estudos de Política Econômica Casa das Garças, em entrevista por telefone, do Rio de Janeiro.

“O BCE se esquivou completamente de atuar nos títulos longos, que era o que os mercados queriam, mas anunciou que discutirá, nas próximas semanas, um plano para que possa comprar títulos de curto prazo”, disse Monica, que também foi economista do Fundo Monetário Internacional de 2000 a 2005. “No final das contas, ele sinalizou que pode assistir a Espanha com financiamento de até dois anos, se o país pedir ajuda ao fundo de resgate. Acho que tem um pedido de socorro da Espanha prestes a vir.”

De acordo com a economista, isso torna politicamente mais fácil para o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, que está há apenas sete meses no poder, solicitar assistência financeira.

“É mais do que o Fed fez ontem; o Fed não disse nada, nem preparou terreno para um novo QE”, disse ela.

O presidente do BCE também foi cuidadoso ao mostrar que a integridade institucional do BCE será respeitada, disse Monica.
“Draghi não pode ser acusado de fazer nada fora do mandato dele.”

Como as taxas curtas da Espanha, assim como da Itália, estão em níveis muito próximos aos das taxas longas, esses mercados não estão funcionando adequadamente, e sem o funcionamento correto dos mercados mais líquidos, os canais de transmissão de ações de política monetária do BC ficam bloqueados, disse a economista.

“Mal ou bem, uma ação na ponta curta da curva tem efeito na curva inteira e está dentro do mandato da autoridade monetária agir para normalizar as condições vigentes nesses mercados”, disse ela. Os comentários de Draghi hoje não eram o que os mercados esperavam, disse a economista, “mas também não são um grande nada”.