Le Pen: seu objetivo, afirma, é "devolver ao povo francês sua soberania" monetária, territorial e econômica (Vincent Kessler/Reuters)
AFP
Publicado em 23 de março de 2017 às 17h03.
Última atualização em 23 de março de 2017 às 17h04.
A saída do euro, proposta por Marine Le Pen, faz tremer economistas e empresários na França, onde a candidata da extrema direita parte como favorita frente ao primeiro turno das eleições presidenciais.
Embora as pesquisas indiquem uma derrota de Le Pen no segundo turno, em 7 de maio, esta é a primeira vez que uma eleição suscita tantos questionamentos entre os meios econômicos.
"Ninguém sabe o que vai acontecer, as últimas eleições em todo o mundo trouxeram grandes surpresas", assinalou Jean-Lou Blachier, vice-presidente da Confederação de Pequenas e Médias Empresa (CPME).
Para Marine Le Pen, o euro é responsável pela perda do poder aquisitivo, pelo déficit comercial e pelo fraco crescimento da França. "Os preços explodiram quando mudamos para o euro, [essa] é uma verdade que tem sido escondida", assegurou Le Pen nesta quinta-feira.
Além de "restabelecer a moeda nacional", a candidata ultradireitista propõe a taxação de alguns produtos importados e a convocação de um referendo para perguntar ao povo sobre um possível Frexit, que significaria a saída da França da União Europeia, seguindo os passos do Reino Unido que votou à favor do Brexit em 2016.
Seu objetivo, afirma, é "devolver ao povo francês sua soberania" monetária, territorial e econômica.
Apesar da opinião pública ser contra a saída da União Europeia - 28% à favor diante de 72% contra, segundo uma pesquisa - Le Pen não poderá voltar atrás nesta ideia que é um dos pontos mais fortes de seu partido "antissistema", aponta Dominique Meurs, professora de Economia.
Para diversos especialistas, um retorno à moeda nacional terá consequências desastrosas. "Se a França abandonar a moeda única, toda zona do euro pode vir abaixo", adverte Mathieu Plane, do Observatório francês de Conjunturas Econômicas.
Além disso, voltar a usar o franco levará a um provável aumento das taxas de juros. De acordo com o Banco da França, a dívida custaria 30 bilhões a mais por ano.
"As dívidas contraídas pelas empresas e pelas famílias francesas aumentariam. A inflação, que já não estaria controlada pelo Banco Central Europeu (BCE), acabaria com as poupanças, as rendas fixas das famílias e as pequenas pensões", afirmou Benoît Coeuré, membro do Comitê Executivo do BCE.
"A verdadeira 'serial killer' do poder aquisitivo é a senhora Le Pen, com o abandono do euro", denunciou o candidato conservador François Fillon durante o primeiro debate presidencial entre os cincos principais candidatos.
"Nos falam muitas besteiras sobre o retorno à moeda nacional", defendeu-se a candidata, que promete um aumento da competitividade e do número de empregos.
No âmbito financeiro, "a perspectiva de retornar ao franco" e o medo da desvalorização "levariam rapidamente a uma fuga de capital dos investidores institucionais, franceses e estrangeiros, assim como de particulares".
Isto teria graves repercussões para o sistema bancário, considera o Instituto Montaigne.
Marine Le Pen, que denuncia uma "estratégia do medo" afirma, ao contrário, que uma moeda desvalorizada impulsionaria as exportações francesas, já que seriam mais baratas, reequilibrando a balança comercial deficitária.
Outro ponto que preocupa as empresas é o aumento das tarifas alfandegárias previsto pelo partido de Le Pen, o Frente Nacional.
"Se fecharmos nossas fronteiras, é óbvio que nossos sócios pensarão duas vezes antes de comprar nossos produtos", considera Paul Robert, da associação France Clusters, que agrupa 60.000 empresas.