Silvio Berlusconi: legisladores do partido do ex-premiê, o PDL, ameaçaram em 2 de agosto derrubar o governo para tentar assegurar a absolvição de seu líder (REUTERS/Alessandro Bianchi)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2013 às 10h18.
Roma - A condenação de Silvio Berlusconi por fraude fiscal está prejudicando o esforço do governo de coalizão de estimular uma economia italiana que mostra sinais de que está emergindo de uma recessão de dois anos.
A Itália divulgou nesta semana uma contração menor que a esperada no segundo trimestre, deixando o primeiro-ministro Enrico Letta com a tarefa de manter a tendência.
Os eleitores estão exigindo cortes de impostos, enquanto economistas pedem a realização de reformas no mercado de trabalho e no sistema judiciário. Essas questões têm estado em segundo plano em um momento em que Berlusconi, parceiro da aliança de rivais armada por Letta, tenta ser absolvido.
“Isso faz com que seja ainda mais difícil o trabalho conjunto”, disse Ulrike Rondorf, economista no Commerzbank AG em Frankfurt. “Ressaltou os problemas existentes na política italiana.”
Em 2 de maio, os títulos italianos de dívidas de dez anos avançaram 49 pontos-base, para 4,25 por cento, após dois anos e meio de baixa. O veredicto de Berlusconi torna ainda mais difícil para Letta conseguir o consenso - ele que já teve sua reputação manchada por procrastinação.
Investidores que lembram de rendimentos dos títulos de dez anos acima de 7 por cento durante a crise financeira do euro podem continuar satisfeitos enquanto o governo de Letta não cair, disse Georg Grodzki, da Legal General Investment Management, de Londres.
Segunda Guerra Mundial
A economia pode estar se recuperando da recessão mais longa desde a Segunda Guerra Mundial. O produto interno bruto contraiu-se 0,2 por cento nos três meses encerrados em 30 de junho, em comparação com o primeiro trimestre, quando caiu 0,6 por cento, disseram serviços de estatística da Itália em 6 de agosto.
A produção industrial avançou pelo segundo mês em junho, enquanto a confiança do consumidor subiu inesperadamente.
As famílias estão contando com Letta, 46, que impôs uma suspensão da cobrança de impostos imobiliários em junho para tornar a flexibilização fiscal mais permanente. Ele prometeu chegar a um compromisso para reduzir o imposto imobiliário e tentar adiar um aumento do imposto sobre o valor agregado referente a outubro.
Ambas as medidas podem exigir acordos para efetivar os cortes de custos, pois Letta prometeu manter o déficit orçamentário em 3 por cento do PIB neste ano.
100 dias
“Deixamos os primeiros 100 dias para trás”, disse Letta em 6 de agosto em um post no site do governo. O objetivo é “concentrar-se ainda mais nas políticas quando o embate político parecer incandescente”, disse ele.
O acordo pode ficar mais difícil de sair à medida que o Partido Democrático, de Letta, e o Povo da Liberdade, de Berlusconi, consideram a probabilidade de antecipar as eleições.
Legisladores do partido de Berlusconi, o PDL, ameaçaram em 2 de agosto derrubar o governo para tentar assegurar a absolvição de seu líder. Ao reiterar seu apoio a Letta em um comício, dois dias depois, Berlusconi sugeriu que o Judiciário era uma ameaça à democracia.
“Silvio Berlusconi, o Povo da Liberdade e a Forza Italia são opositores ao regime”, disse Berlusconi, citando o nome de seu primeiro partido político, que significa “força, Itália”. “É a única barreira que temos contra um regime iliberal e judiciário.”
Berlusconi, o mais bem-sucedido político italiano dos últimos 20 anos, não deverá passar um dia na cadeia e sua sentença de quatro anos de prisão provavelmente será reduzida para um ano de prisão domiciliar ou serviços comunitários.
A execução está suspensa pelas próximas semanas para dar a seus advogados tempo para preparar uma petição de sentença. Berlusconi, 76, negou irregularidades.
Cabine de voto
Um retorno às urnas daria aos italianos uma segunda chance, após as eleições inconclusivas de fevereiro, para definir um rumo claro para o país.
Também poderia dar uma oportunidade à maior força de oposição, o Movimento Cinco Estrelas, de Beppe Grillo. O PDL e o Partido Democrata, PD, que antes ocupavam lados opostos na divisão política tradicional, juntaram-se depois que o Cinco Estrelas levou um quarto dos votos.
“Nem o PD, nem o PDL têm interesse em um iminente colapso do governo”, disse Raffaella Tenconi, economista do Bank of America Merrill Lynch, em Londres, em 1 de agosto, em um relatório de pesquisa. “As eleições podem ser chamadas no final do ano para que o resultado saia na próxima primavera”.