Economia

FMI propõe minirrevolução em Washington

"Tivemos que ler duas vezes o relatório para ficarmos seguros de que tínhamos compreendido bem", afirmou Nicolas Mombrial, diretor da ONG Oxfam em Washington


	FMI: "Parece existir margem suficiente em muitos países avançados para obter mais dinheiro das altas receitas", escreve o Fundo
 (Bloomberg)

FMI: "Parece existir margem suficiente em muitos países avançados para obter mais dinheiro das altas receitas", escreve o Fundo (Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2013 às 20h11.

Taxar as altas receitas ou se centrar nas multinacionais? O FMI surpreendeu esta semana em Washington ao sugerir lutar contra os déficits com uma alta dos impostos.

Em um trecho do relatório sobre a dívida pública, esta mudança foi ofuscada pela preocupação com a crise orçamentária dos Estados Unidos, mas não escapou do escrutínio dos especialistas e das ONGs.

"Tivemos que ler duas vezes o relatório para ficarmos seguros de que tínhamos compreendido bem", afirmou à AFP, Nicolas Mombrial, diretor da ONG Oxfam em Washington, "são raras as propostas do FMI tão surpreendentes", acrescentou.

Guardião da ortodoxia financeira, o Fundo Monetário Internacional, que realiza sua assembleia geral esta semana em Washington, pede tradicionalmente aos estados em dificuldades para cortar seus gastos públicos para reduzir o déficit.

Contudo, em um relatório intitulado "O tempo dos impostos", o Fundo sugere taxar os mais ricos e seu patrimônio para "reforçar a legitimidade" dos planos econômicos e para lutar contra o aumento das desigualdades.

"Parece existir margem suficiente em muitos países avançados para obter mais dinheiro das altas receitas", escreve o Fundo, que aponta que os impostos aos mais ricos caíram claramente durante os últimos 30 anos.

Manter a taxa dos anos 80

Segundo suas estimativas, taxar os mais ricos com as mesmas taxas que em 1980 significaria em média receitas fiscais equivalentes a 0,25% do PIB nos países desenvolvidos.

"Os lucros seriam muito maiores em certos casos, como nos Estados Unidos", onde representariam 1,5% do PIB, afirma o FMI, que denuncia também os prejuízos da otimização fiscal das multinacionais.


Só nos Estados Unidos, estas técnicas legais fazem receita deixar de arrecadar 60 bilhões de dólares, estima o Fundo.

A instituição afirma que não deseja entrar no debate sobre a necessidade ou não de taxar os mais ricos, mas garante que existe uma oportunidade única de modificar a arquitetura da tributação internacional.

A diretora gerente do FMI, Christine Lagarde, reforçou esta nova orientação da instituição. Uma tributação mais justa "interessa claramente aos ministros das Finanças e é necessária para encontrar um equilíbrio nas finanças públicas", declarou na quarta-feira em uma mesa redonda. "Há muitas oportunidades perdidas", considerou.

Enquanto o governo francês defendia um imposto de 75% sobre as altas receitas, combatido pelo Conselho Constitucional, o ministro da Economia acolheu timidamente as sugestões do Fundo.

"Se a ideia de base é que a política fiscal é uma política que tenta reduzir as desigualdades, não me queixaria", declarou Pierre Moscovici em uma coletiva de imprensa em Washington. O ministro comemorou a "evolução positiva", mas rejeitou qualquer "mudança radical" do FMI.

Na liderança da luta contra os paraísos fiscais e evasão fiscal das multinacionais, a OCDE felicitou o FMI por se unir a sua luta.

"Vemos isso com bons olhos. Há lugar para todo mundo. O Fundo pode significar uma verdadeira contribuição para as análises econômicas", disse à AFP, Pascal Saint-Amas, chefe da divisão fiscal da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

"Estas propostas vão por um bom caminho, mas resta muito a fazer", comentou Mombrial, que pede ao Fundo que faça algo contra os fluxos ilícitos de capital que significam perdas, segundo a ONG, de 800 bilhões de dólares de receitas aos países do Sul.

Acompanhe tudo sobre:FMIImpostosLeãoOrçamento federalPolítica monetária

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto