FMI: a estimativa do FMI para o Brasil aumentou 0,4% em relação a janeiro (Yuri Gripas/Reuters)
AFP
Publicado em 11 de maio de 2018 às 14h36.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina e do Caribe aumentará 2,0% em 2018, segundo um relatório divulgado nesta sexta-feira (11) em Lima. No Brasil, a estimativa aumentou 0,4% em relação a janeiro.
Os dados são anteriores à volatilidade que enfraqueceu as moedas regionais e deixou a Argentina na berlinda. A terceira maior economia da região e integrante do G20 negocia com o FMI, em Washington, o acesso a um crédito de "stand by" para tentar resolver a aguda crise financeira que teve início há algumas semanas e lhe atingiu em cheio.
O crescimento do rendimento da dívida americana a 10 anos desvalorizou as moedas da região, mas isso afetou especialmente a Argentina, que enfrentou uma elevada demanda por dólares dos investidores, que fugiram do peso e do país.
Desde que o movimento teve início, em março, o Banco Central da Argentina liquidou mais de 8 bilhões de dólares de suas reservas - reduzidas a cerca de 55 bilhões - e elevou a taxa de juros a 40%, enquanto o país reduziu sua meta de déficit fiscal.
O relatório do FMI divulgado nesta sexta-feira em Lima foi elaborado, porém, antes do agravamento da crise na Argentina. Por isso, o documento de 138 páginas dedicado à região se concentra nos efeitos econômicos da seca que atingiu o país.
O economista-chefe do FMI para o Hemisfério Ocidental, Alejandro Werner, tinha previsto apresentar este documento em Lima, mas optou por permanecer em Washington, acompanhando as negociações com autoridades argentinas.
"Uma redução contínua do déficit fiscal primário (...) ajudaria a ancorar as expectativas inflacionárias com as taxas de juros mais baixas, reduzir a vulnerabilidade relacionada com as fortes necessidades brutas de financiamento fiscal", afirma o documento acerca da Argentina.
O FMI fez elogios moderados ao Brasil, ao apontar que o país cresceu 1% em 2017, após uma "profunda recessão" de dois anos, para fechar 2018 com crescimento de 2,3% e chegar a 2,5% em 2019.
O organismo indicou, contudo, que existe um "risco crucial" de que o cenário de política econômica seja alterado com o resultado das eleições presidenciais de outubro, que poderia provocar maior volatilidade e "incertezas".
Como já tinha acontecido em abril, durante os encontros de primavera boreal entre o FMI e o Banco Mundial, a atenção regional se concentrou na situação na Venezuela, onde o Fundo estima uma retração de 15% este ano.
Este recuo ocorre após "uma retração acumulada de 35% entre 2014 e 2017".
"A crise humanitária também está se intensificando, devido à crescente escassez de produtos básicos (...), ao colapso do sistema de saúde e aos altos índices de criminalidade", disse o documento.
Já durante essas reuniões do FMI e do Banco Mundial, Werner alertou que a situação venezuelana constitui uma das maiores crises "da economia moderna".
O resto do documento está em sintonia com o capítulo dedicado à América Latina e ao Caribe no Panorama Econômico Mundial divulgado em meados de abril.
Com os dados disponíveis até abril, o FMI apontou a expectativa de uma recuperação do crescimento regional, estimulado por "um ambiente global favorável, ajudado por uma recuperação nos preços das commodities".
Por isso, o FMI tinha elevado sua previsão do crescimento regional a 2%. No informe anterior, essa expectativa era de 1,9%.
Segundo o organismo, a região da América Latina e do Caribe encerrou 2017 com crescimento de 1,3%, um desempenho que, em abril, um especialista do Fundo tinha classificado como "um pouco baixo".
Para 2019, o FMI prevê expansão do PIB de 2,8%.
No documento divulgado nesta sexta-feira, o FMI insistiu em que a região enfrenta riscos externos, especialmente um ajuste nas condições financeiras globais e um aumento de medidas protecionistas em termos de comércio.
Nesse cenário, o FMI recomendou a manutenção dos esforços para manter a relação dívida-PIB em níveis "sustentáveis", melhorar os investimentos em infraestrutura, atacar a corrupção, abrir-se ao comércio internacional e a trazer transparência aos bancos centrais.
De acordo com especialistas do FMI, México, América Central e partes do Caribe se beneficiaram de um aumento do crescimento nos Estados Unidos.
No entanto, ele acrescentou que a renegociação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), que se arrasta desde agosto do ano passado, gera "incertezas" na região.