Economia

FMI novamente no olho do furacão

Problemas judiciais reaparecem três anos após o escândalo que terminou com a renúncia forçada de Dominique Strauss-Kahn

A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde: ela sofre denúncias de imputação por "negligência" (Thomas Samson/AFP)

A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde: ela sofre denúncias de imputação por "negligência" (Thomas Samson/AFP)

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Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2014 às 17h23.

Washington - O FMI está novamente no olho do furacão por problemas judiciais de sua diretora-geral, Christine Lagarde, três anos após o escândalo que terminou com a renúncia forçada de Dominique Strauss-Kahn em 2011 em meio a um escândalo sexual.

A imputação por "negligência" a Lagarde por um caso, que remonta à época de ministra da Economia na França, está longe de ter a gravidade que envolveu a demissão do então diretor francês do Fundo em 2011.

Mas este caso, relacionado a uma arbitragem da qual se beneficiou o empresário francês Bernard Tapie em 2008, poderia prejudicar a instituição, criticada por suas políticas de austeridade na Europa e pela pouca participação dos países emergentes em suas decisões.

A diretoria executiva do FMI, que representa seus 188 Estados membros, manifestou sua "confiança" em Lagarde para desempenhar "eficazmente suas funções", apesar da instrução judicial em seu país de origem.

Até agora, Lagarde foi apenas "testemunha" no caso e, agora, está imputada pela Corte de Justiça da República após uma quarta audiência na terça-feira em Paris. O delito de "negligência" é passível de um ano de prisão e uma multa de 15.000 euros.

O FMI rejeitou qualquer comentário, e Lagarde disse à AFP que exclui renunciar ao cargo. "Volto a trabalhar em Washington ainda nesta tarde", garantiu pela manhã.

Lagarde tem prestígio no FMI após recuperar a instituição atingida pelo escândalo de seu ex-diretor e gerenciar os planos de resgate financeiros na zona do euro.

Prudência

"Acontecimentos como esse não são positivos, mas Lagarde teve maior eficiência em sua condução do FMI. Este caso não afetou a forma como dirigiu a instituição", disse à AFP Desmond Lachman, ex-funcionário do FMI.

Ex-integrante do conselho de administração do Fundo, Domenico Lombardi afirmou também à AFP que não espera uma "decisão radical" do FMI no curto prazo.

Outras vozes dentro do organismo internacional são, entretanto, mais prudentes. O representante do Brasil e de mais dez países no conselho, Paulo Nogueira Batista, disse à AFP que se trata de um "caso sério".

"É muito cedo para dizer o que isso significa, mas devemos avaliar se pode provocar danos à imagem do Fundo", acrescentou Nogueira Batista, ressaltando que não se manifesta em nome do organismo.

O FMI enfrenta alguns desafios importantes. Um dos principais partiu da China e do Brasil, que impulsionaram a criação em julho de um banco para o Brics (grupo que inclui Rússia, Índia e África do Sul), como forma de compensar a hegemonia da Europa e dos EUA nos financiamentos ao desenvolvimento.

Desde que foi criado em 1944, o FMI sempre foi dirigido por um europeu.

"Se Lagarde renunciar, os países emergentes pressionarão para colocar um dos seus à frente do FMI", arriscou Lachman.

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