Economia

Fitch: Brasil faz progresso político, mas PIB e dívida pesam

Para a agência de classificação de risco, a receita subjacente e a dinâmica de gastos do governo brasileiro continuam desafiadoras

Brasil: a Fitch projeta que a economia brasileira saia da recessão este ano (Getty Images)

Brasil: a Fitch projeta que a economia brasileira saia da recessão este ano (Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de fevereiro de 2017 às 15h40.

São Paulo - As autoridades brasileiras fizeram progresso no enfrentamento dos desequilíbrios fiscais e econômicos nos últimos meses, mas o fraco crescimento da economia e o grande déficit fiscal significam que a estabilização da dívida pública continua um desafio, afirmou a agência de classificação de risco Fitch.

"Desde que afirmamos o rating BB/Negativo em novembro, o governo Michel Temer assegurou a aprovação do Congresso para um teto de gastos e introduziu um projeto de reforma da Previdência. A inflação desacelerou mais e o déficit em conta corrente diminuiu para 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), refletindo uma ampla compressão das importações por causa da recessão e a depreciação do real", afirma, em nota, a agência de rating.

"No entanto, o PIB contraiu pelo sétimo trimestre consecutivo no terceiro trimestre e o déficit do setor público como proporção do PIB permaneceu elevado em 2016, em 8,9%."

Segundo o documento, a receita subjacente e a dinâmica de gastos do governo brasileiro continuam desafiadoras. As receitas contraíram em termos reais, refletindo o contexto de recessão, e o déficit na seguridade social chegou a 2,4% do PIB.

Além disso, a Fitch lembra que, embora o governo tenha atingido sua meta de déficit primário de 2,5% do PIB, isto só foi possível graças a uma repatriação não recorrente que arrecadou cerca de 0,8% do PIB.

A agência de rating nota que o andamento de temas importantes no Congresso mostra como o ambiente político melhorou após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas afirma que reformas como a da Previdência podem se provar mais difíceis com o possível retorno da volatilidade política em meio ao ciclo eleitoral de 2018.

"Embora estas duas medidas, combinadas, possam facilitar a consolidação fiscal no médio prazo, mais medidas são necessárias para acelerar o processo e colocar a trajetória da dívida pública em um patamar melhor", diz a Fitch.

"No mais, alguns Estados enfrentam forte estresse financeiro, incutindo um risco negativo para consolidação fiscal. Na ausência de taxas de crescimento mais elevados, é pouco provável que o gradualismo fiscal do governo Temer estabilize a dívida pública no curto prazo."

A Fitch projeta que a economia brasileira saia da recessão este ano, embora note que a contração observada no terceiro trimestre de 2016 mostre uma fraqueza do investimento e do consumo.

A queda contínua da inflação e das expectativas de inflação, por outro lado, dá ao Banco Central espaço para afrouxar ainda mais a política monetária após o corte de 0,75 ponto porcentual em janeiro.

A agência lembra que a perspectiva negativa para o rating BB do Brasil reflete grande desequilíbrio fiscal e dinâmica adversa da dívida pública.

"Desta forma, o fracasso em reduzir o ritmo de crescimento da dívida pública e/ou a cristalização de passivos contingentes podem levar a um novo rebaixamento. Paralisação política e incapacidade de implementar medidas que melhorem a perspectiva de crescimento e das finanças públicas também podem acarretar a perda de nota."

Acompanhe tudo sobre:Crise econômicaCrise políticaFitchPIB

Mais de Economia

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto

Manifestantes se reúnem na Avenida Paulista contra escala 6x1