Economia

Fim da safra de cana pode afetar 35 mil trabalhadores

Expectativa é de que cerca de 70% das unidades produtoras de São Paulo terminem a moagem de cana em outubro


	Gerente supervisiona colheita de cana de açúcar em uma fazenda perto de Colombia, Brasil
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Gerente supervisiona colheita de cana de açúcar em uma fazenda perto de Colombia, Brasil (Dado Galdieri/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2014 às 17h17.

São Paulo - O encerramento precoce da safra de cana-de-açúcar 2014/15 afetará 35 mil trabalhadores em São Paulo, seja com demissão antecipada ou com redução de benefícios, de acordo com a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas paulista (Fequimfar), cuja base reúne 100 usinas no Estado.

"Se considerarmos a área rural, podemos falar em 200 mil pessoas que têm seus direitos, de alguma forma, ameaçados neste ano", afirmou ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, o secretário-geral da entidade, Edson Bicalho.

"O cenário é extremamente preocupante", disse, ressaltando que, além da safra menor, é preciso considerar as dificuldades que o setor enfrenta nos últimos anos por causa da perda de competitividade do etanol.

A expectativa é de que cerca de 70% das unidades produtoras de São Paulo terminem a moagem de cana em outubro, até dois meses antes do período normal.

Essa perspectiva deve-se à falta de matéria-prima para ser processada, reflexo da forte estiagem no início do ano, que comprometeu o desenvolvimento dos canaviais.

O fim antecipado da safra deve alongar o período em que as usinas ficarão paralisadas, já que a moagem da próxima temporada tende a começar somente entre março e abril do ano que vem.

"Para as usinas, não compensa segurar o pessoal sem produzir durante uma entressafra de até seis meses", explicou Bicalho, lembrando que o espaço entre os ciclos de moagem fica, geralmente, entre dois e três meses.

"Nossas maiores preocupações são com o 13º (Salário) e férias."

Além disso, "(o setor em) São Paulo tem uma grande parcela de migrantes, que vêm do Nordeste, do Norte", ressaltou Braz Albertini, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetaesp).

As preocupações são de que esses pessoas retornem aos seus Estados de origem com recursos bem menores do que os inicialmente previstos. "Há uma parcela que fica (em São Paulo), mas a maioria volta."

Crise

Para especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a severa estiagem neste ano complicou ainda mais a situação do setor, já que existem outros fatores que vêm afetando os empregos em usinas há alguns anos, como a perda de competitividade do etanol e a mecanização das lavouras.

"Em 2007, 41,7% da área colhida em São Paulo foi de forma mecânica, com estimativa de 210 mil cortadores de cana. Agora, a mecanização é de 81,3%, e o número de cortadores caiu para 70 mil", disse Carlos Fredo, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.

A mecanização dos trabalhos de corte se expandiu com força justamente a partir de 2007, quando foi firmado o Protocolo Agroambiental do Estado de São Paulo.

Pelo documento, a queima da palha de cana deveria ser eliminada até 2014 em terrenos que permitem a operação de máquinas. No restante dos locais, o prazo vence em 2017.

Para um representante das usinas que não quis se identificar, todos esses fatores podem fazer com que o setor feche 2014 com o pior desempenho em termos de emprego desde a crise do final dos anos 1990, provocada pela superprodução de cana e derivados.

Em todo o Centro-Sul, a seca deve reduzir em 9% o volume de cana processada, de 597 milhões de toneladas em 2013/14 para 546 milhões de toneladas agora, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

A respeito do impacto da estiagem sobre os empregos em usinas, a entidade preferiu não comentar.

Acompanhe tudo sobre:AgriculturaCana de açúcarDesempregoEmpregosTrigo

Mais de Economia

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto

Manifestantes se reúnem na Avenida Paulista contra escala 6x1

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta