Economia

FGV avalia que alta em alimentos é puxada por carnes

Para superintendente da FGV, preços do segmento têm impulsionado a inflação ao consumidor


	Alta: carnes bovinas ficaram 2,72% mais caras, acompanhando um movimento já observado no atacado
 (Elza Fiúza/ABr)

Alta: carnes bovinas ficaram 2,72% mais caras, acompanhando um movimento já observado no atacado (Elza Fiúza/ABr)

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Da Redação

Publicado em 7 de outubro de 2014 às 14h34.

Rio de Janeiro - A aceleração dos preços de alimentos no varejo em setembro não é algo generalizado, explicou nesta terça-feira, 7, o superintendente adjunto de inflação da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

Segundo ele, os preços das carnes têm impulsionado a inflação ao consumidor, mas o movimento para por aí, já que hortaliças e legumes, panificados e biscoitos, óleos e gorduras continuaram ficando mais baratos no mês passado.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,49% em setembro, após alta de 0,12% em agosto, no âmbito do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI).

As carnes bovinas ficaram 2,72% mais caras, acompanhando um movimento já observado no atacado, diante de perspectivas de maior demanda para exportação. Com isso, bens substitutos como aves e suínos também têm apresentado aumento de preços.

"Não vemos aceleração da alimentação de forma generalizada. Mas todas as carnes, juntas, já são cerca de 20% da despesa com alimentação no domicílio, que subiu 0,56% em setembro", observou Quadros. Em agosto, a alimentação no lar havia ficado 0,08% mais barata.

Do outro lado da balança, continuaram ficando mais baratos alimentos como ovos (-2,22%), hortaliças e legumes (-4,63%), panificados e biscoitos (-0,51%), além de óleos e gorduras, impactados pela queda nos preços da soja no atacado.

Apesar disso, o efeito do grão no varejo é mais limitado do que o da carne, uma vez que a soja brasileira é voltada principalmente para exportação. "O efeito da carne prevalece muito mais do que o efeito da soja", disse Quadros.

Uma herança da recuperação pós-estiagem, a queda dos alimentos in natura ainda tem força para se manter por mais um tempo, apostou o superintendente.

A aceleração tem sido a passos lentos - a queda em agosto era de 5,51%. "Além disso, a batata-inglesa no atacado voltou a cair com intensidade", notou Quadros. No IPC, a batata havia acelerado de -21,47% para -12,20%, movimento que pode sofrer nova inversão.

Ainda no IPC, a tarifa de eletricidade residencial subiu 2,01%, diante de reajustes em Salvador e Brasília, bem como de um aumento em impostos que incidem sobre a tarifa. O fim da queda nos preços dos hotéis, após os fortes aumentos durante a Copa do Mundo, também levou à aceleração da inflação.

Na gasolina, a explicação para alta de 0,90% pode estar no preço de importação do bem, já que não houve reajuste nas refinarias nem aumento no preço do álcool anidro, que é misturado ao combustível comercializado nos postos.

Câmbio

Apesar das oscilações recentes - e muitas vezes bruscas - no câmbio, na esteira das eleições presidenciais no País, Quadros duvida que o dólar se torne, no curto prazo, uma ameaça à inflação doméstica, já pressionada por outros fatores. "Nesse momento, o câmbio não é uma variável que possa sugerir preocupação inflacionária", disse.

Segundo Quadros, a volatilidade anormal do câmbio percebida nas últimas semanas, fortemente influenciada por especulações sobre o cenário eleitoral, não fará preço nos contratos firmados pelas indústrias.

"Se alguém aumenta preço agora e o dólar cai, ele pode ser pego no contrapé, pois o outro pode não ter subido. Então, todo mundo sabe que é um período de volatilidade anormal. Nesse período, a volatilidade não vai ser incorporada (aos preços)", afirmou.

O ajuste anterior, quando o dólar saiu do patamar abaixo de R$ 2,30 para se posicionar na casa dos R$ 2,40, pode até impactar os preços nas próximas semanas, no caso de empresas que ainda não incorporaram esse movimento a seus preços.

Mas isso ainda não foi visualizado nos índices de preços. "Isso pode ir chegando aos poucos. Mas, hoje, o efeito do câmbio na inflação em geral está difícil de identificar", disse Quadros.

Porém, o resultado do segundo turno das eleições, programado para o próximo dia 26, pode mudar esse quadro. "Pode ser que (o dólar) suba ou baixe, e aí se defina um pouco mais. Mas mesmo que a eleição dê uma suavizada, a tendência é subir no longo prazo", avaliou o superintendente, frisando que um movimento mais duradouro do câmbio, aí sim, afetaria os preços no atacado e, consequentemente, no varejo.

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