Economia

"Fênix celta", Irlanda foi a surpresa de 2014 na Europa

Um dos países europeus que mais sofreram com a crise está voltando com tudo: só a expectativa de crescimento para o país já dobrou no espaço de poucos meses

Sede do Google em Dublin, na Irlanda: empresas de tecnologia também estão expandindo suas operações na Irlanda (Simon Dawson/Bloomberg)

Sede do Google em Dublin, na Irlanda: empresas de tecnologia também estão expandindo suas operações na Irlanda (Simon Dawson/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 10 de dezembro de 2014 às 13h40.

São Paulo - Esqueça Itália, França ou mesmo a Grécia pós-depressão: hoje, na Europa, ninguém cresce mais do que a Irlanda.

De acordo com os últimos números da Comissão Europeia, o PIB do país deve crescer 4,6% em 2014 e 3,6% em 2015, mais que o dobro do previsto até poucos meses atrás. A título de comparação, a Alemanha deve registrar 1,1%.

A Irlanda é muito dependente de exportações e está recebendo um empurrão da recuperação sólida dos seus maiores parceiros comerciais: Reino Unido e Estados Unidos.

Os sinais estão por toda parte: a confiança do consumidor irlandês atingiu o maior nível dos últimos 7 anos e o desemprego, ainda que alto (10,7%), está cedendo de forma consistente.

Após anos de queda, as casas em Dublin valorizaram em média 24% nos 12 meses até outubro - taxa maior até do que a de Londres, maior símbolo mundial do frenesi imobiliário.

Crise e pós-crise

O retorno deste setor é notável justamente porque a narrativa da crise irlandesa foi muito parecida com a americana. A prosperidade dos anos 90 rendeu ao país o apelido de "tigre celta", mas a euforia acabaria levando a uma bolha imobiliária associada com forte alavancagem dos bancos.

No caso irlandês, havia os agravantes de que o país usa o euro e dependia demais do imposto sobre propriedade. Quando ele começou a declinar, a receita do governo foi embora junto e em 2010, o país acabou tendo de ser resgatado pelo trio FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia.

As condições foram duras - cortes de despesas, aumentos de impostos e reformas - mas o país conseguiu emergir e no final de 2013, se tornou o primeiro europeu a deixar o pacote (e suas condições) e voltar para os mercados internacionais.

Os dois maiores bancos do país salvos pelo resgate já estão registrando seus primeiros lucros desde 2008. Há uma semana, a Standard & Poor's elevou a nota de crédito da Irlanda de A- para A, com perspectiva estável. 

Não há espaço para descuido em um país que ainda tem dívida pública acima de 120% do PIB, mas se a "fênix celta" já conseguiu emergir da fome, pobreza e violência ao longo da sua história, não seria uma crise financeira que iria acabar de vez com o seu voo.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoCrise econômicaDesenvolvimento econômicoEuropaIrlandaPiigsUnião Europeia

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto