Pedestre usando máscara de proteção passa pelo prédio do Departamento de Trabalho do Estado de Nova York, no bairro de Queens, em Nova York, EUA, na terça-feira, 14 de abril de 2020. (Jeenah Moon/Bloomberg)
Bloomberg
Publicado em 29 de junho de 2020 às 16h56.
Última atualização em 29 de junho de 2020 às 18h54.
Jerome Powell gosta de apontar como a política do Federal Reserve de estender o crescimento ajudou os americanos de baixa renda a conseguir empregos e aumentos salariais.
Mas depois que esses ganhos foram destruídos pelo coronavírus, o resgate da taxa de juros próxima a zero do chairman do Fed está aquém de ajudar os mais vulneráveis no mercado de trabalho. Em vez disso, pode acabar aumentando as desigualdades.
Nova pesquisa de economistas do Fed mostra quão gravemente as perdas de empregos na era da pandemia impactaram os pobres, cujo ritmo de demissões é quatro vezes maior do que para aqueles que ganham salários mais altos. Mulheres e minorias foram especialmente atingidas, segundo dados do Departamento do Trabalho.
“A pandemia expôs o quão frágil era o mercado de trabalho”, disse Valerie Grant, gestora sênior de portfolios do Responsible U. S Equities, da AllianceBernstein. Embora o foco do Fed em lidar com as desigualdades no mercado de trabalho seja “louvável”, ela mostra dúvidas sobre se isso provocará mudanças reais. “Existem limites para o que a política monetária pode fazer sozinha”, disse ela.
Enquanto a mão-de-obra enfrenta uma longa dificuldade para retomar sua posição anterior à crise, os mercados de capitais se recuperaram com força - em grande parte graças ao resgate de trilhões de dólares que o Fed ajudou a orquestrar.
Até o final de maio, o emprego para um quinto dos americanos mais bem pagos ainda estava cerca de 30% abaixo dos níveis de fevereiro, de acordo com um artigo publicado em conjunto por economistas do Fed este mês. Naquele ponto, o mercado de ações dos EUA recuperou a maior parte de suas perdas e caía cerca de 10% em relação aos níveis mais altos do ano.
Powell e seus colegas negam veementemente que suas políticas estejam exacerbando a desigualdade. Eles dizem que farão tudo o que estiver ao seu alcance para levar os EUA de volta ao mercado de trabalho aquecido de 2019 - inclusive mantendo as taxas de juros próximas a zero no futuro próximo.
Mas o chairman do Fed está dizendo às autoridades encarregadas dos gastos do governo dos EUA que, na luta para evitar uma depressão, a bola está com elas.
Na terça-feira, Powell deve testemunhar no Congresso em conjunto com o secretário do Tesouro Steven Mnuchin. Os parlamentares estão debatendo se devem adicionar estímulos aos US$ 3 trilhões que aprovaram para combater os efeitos da pandemia ou começar a reduzir.
Em depoimento ao Congresso neste mês, Powell disse que, ``se não for contida e revertida, a desaceleração poderá ampliar ainda mais as lacunas no bem-estar econômico”. “Seria uma preocupação se o Congresso recuasse muito rapidamente do apoio que está fornecendo”, disse ele na Câmara.
“A política monetária pode estar atingindo seus limites”, disse John Briggs, chefe de estratégia para as Américas da NatWest Markets.
“O banco central pode apoiar o lado fiscal, que é o que eles têm feito”, disse ele. “Mas colocar dinheiro diretamente no bolso dos consumidores - ou estender os benefícios para os desempregados - será muito mais útil, em vez de o Fed comprar US$ 10 bilhões ou US$ 100 bilhões em títulos corporativos.”
Em todo o mundo, os governos estão se voltando para a política fiscal para tirar suas economias da pior crise em muitas gerações, em meio a um consenso crescente de que a política monetária - a ferramenta central da gestão econômica por várias décadas - está se esgotando.
Cerca de 20 milhões de americanos permanecem desempregados, mostraram dados publicados quinta-feira. A taxa de desemprego para negros americanos, que atingiu um nível recorde de baixa de 5,4% no ano passado, ficou em 16,8% em maio. Quase uma em cada cinco mulheres hispânicas está sem emprego.