Dinheiro: críticos do governo vêm defendendo que, como o orçamento de 2020 desabou em razão da crise, manter o teto em 2021 vai prejudicar a recuperação econômica pós-pandemia (cifotart/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de setembro de 2020 às 16h26.
Última atualização em 4 de setembro de 2020 às 16h46.
O diretor de política econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, defendeu nesta sexta-feira, 4, que o teto de gastos não é contracionista para a economia. Segundo ele, a pandemia do novo coronavírus fez com que o governo fosse expansionista na área fiscal, por meio do lançamento de auxílios emergenciais, e "cumprir o teto significa retirar o estímulo feito".
O teto de gastos é um mecanismo que limita as despesas do governo ao orçamento do ano anterior, corrigido pela inflação. Críticos do governo vêm defendendo que, como o orçamento de 2020 desabou em razão da crise, manter o teto em 2021 vai prejudicar a recuperação econômica pós-pandemia.
"Sem a política fiscal arrumada, vamos para um cenário ruim para o país", argumentou Kanczuk. "Teto tem de cumprir. Isso é importante para o BC e para todos."
Kanczuk afirmou ainda que o cumprimento do teto significará uma inflação menor para 2021. Segundo ele, é possível que a redução da demanda no próximo ano, em razão do fim dos auxílios dados pelo governo durante a pandemia, puxe a inflação para baixo.
Por outro lado, o diretor do BC afirmou que o avanço recente dos Índices Gerais de Preços (IGPs) já estavam "na conta" do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em seu encontro de agosto. Segundo ele, a alta dos preços de commodities, captada nos IGPs, deve se refletir no IPCA — o índice oficial de preços — nos próximos meses.
"Esperamos inflação maior nos próximos meses. Mas em 2021, outras questões vão pegar, não a inflação de commodities e alimentos de agora", avaliou.
O diretor de política econômica do Banco Central afirmou também que um eventual problema de liquidez pode justificar a intervenção do BC no mercado, por meio da compra de títulos, mas não a preocupação dos agentes com a questão fiscal.
"Não faz sentido para a gente no momento fazer QE (quantitative easing), a menos por questão de disfuncionalidade", afirmou Kanczuk. "O risco fiscal não é uma disfuncionalidade, é o mercado expressando o risco nos preços", acrescentou.
O diretor do BC afirmou que a disfuncionalidade é percebida no mercado de juros quando, por exemplo, os agentes financeiros não conseguem "digerir" o que está acontecendo. Kanczuk deu um exemplo: "Nos próximos meses, o Tesouro vai ter de emitir uma quantidade grande de títulos. E isso pode ser feito rapidamente, distorcendo o mercado".
Em caso de distorção, o BC pode adquirir títulos no mercado secundário — uma possibilidade aberta durante a crise por meio de projeto aprovado no Congresso.
Kanczuk afirmou ainda que o forward guidence — ou "prescrição futura", como traduzido pelo BC — dado pelo Copom em sua última decisão sobre juros gerou uma reação adequada no mercado financeiro. Ele lembrou que houve um movimento de fechamento da curva de juros no mercado logo após a decisão.
Em sua última reunião, o Copom reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual, para 2,00%, e indicou que novos cortes, se ocorrerem serão pequenos. Ao mesmo tempo, deixou claro que não antevê alta de juros. Isso é condicionado, no entanto, ao andamento da questão fiscal.
O diretor do BC participou nesta sexta de evento virtual na internet.