Exportações (Kiyoshi Ota/Bloomberg)
Agência Brasil
Publicado em 22 de abril de 2018 às 17h33.
Os rebaixamentos sofridos pelo Brasil nos últimos meses pelas agências de classificação de risco pouco afetaram um dos principais indicadores do interesse dos investidores estrangeiros.
O risco país continua em níveis baixos, próximos aos de quando o país ainda tinha grau de investimento (garantia de que não corre risco de dar calote na dívida pública).
Segundo especialistas, as elevadas reservas internacionais e o bom desempenho das exportações têm ajudado a manter o índice em níveis baixos.
Definido como a diferença entre os juros dos títulos públicos brasileiros no exterior e os títulos do Tesouro norte-americano, calculada dia a dia, o risco país funciona como um termômetro da desconfiança dos investidores internacionais. Quanto maior a diferença, maior a percepção de risco dos aplicadores em relação a um papel. O indicador foi criado pelo banco de investimentos JPMorgan, em 1992.
O risco país encerrou 2017 em 240 pontos. Na última quarta-feira (18), segundo dados mais recentes, estava em 244 pontos. Pelo indicador, os títulos públicos brasileiros em circulação no exterior tinham juros 2,44 pontos percentuais maiores que os papéis equivalentes do Tesouro norte-americano, considerado o investimento mais seguro do mundo.
O nível é semelhante ao registrado no fim de 2014, quando o Brasil ainda tinha grau de investimento. No início de setembro de 2015, quando a Standard & Poor’s (S&P) tornou-se a primeira agência a retirar o selo de bom pagador do país, o índice estava em torno de 390 pontos.
Chegou a 569 pontos em fevereiro de 2016, recuando gradualmente nos meses seguintes, principalmente após a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff.
Atualmente, as agências S&P e Fitch classificam o Brasil três níveis abaixo do grau de investimento. Os rebaixamentos mais recentes ocorreram em janeiro (S&P) e em fevereiro (Fitch). O principal argumento foi o adiamento da aprovação da reforma da Previdência.
A Moody’s tem uma avaliação mais otimista. Além de ter mantido o país dois níveis abaixo do selo de bom pagador, este mês elevou de negativa para neutra a perspectiva da nota do país, indicando que não pretende alterar a classificação nos próximos meses.
Segundo a agência, o crescimento da economia previsto para 2018 e a possibilidade de aprovação de reformas estruturais pelo próximo governo permitiram a conservação da nota.
Para o economista-chefe da Sulamérica Investimentos, Newton Rosa, as dificuldades fiscais do governo, que não consegue aprovar a reforma da Previdência e viu as medidas provisórias de ajuste fiscal editadas no fim do ano passado perder a validade, são atenuadas pela situação do país no mercado internacional.
As reservas internacionais de US$ 383 bilhões mais do que cobrem a dívida externa do governo e das empresas, atualmente em US$ 316,2 bilhões, contribuindo para manter o risco país em níveis baixos.
“Mesmo com a difícil situação fiscal, o Brasil tem um setor externo robusto. Se o capital externo quiser sair do país, existem dólares para pagar todo mundo. Isso faz com que o investidor internacional mantenha o interesse na economia brasileira”, disse o economista.
Professor de Economia e Finanças Internacionais da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ebape), Istvan Kasznar concorda com a solidez das contas externas brasileiras.
Segundo ele, o diagnóstico das agências de classificação de risco nem sempre consegue ser suficiente porque o banqueiro que quer comprar títulos da dívida brasileira no exterior não leva em consideração somente a situação fiscal.
“De fato, o Brasil não cresce, patina. O déficit primário está em torno de R$ 140 bilhões, e o governo enfrenta dificuldades políticas. Por outro lado, a inflação está baixíssima, e o país exporta muito petróleo, soja e milho. O painel de formação de reservas internacionais é muito bom. Quando se combina um elemento com o outro, chega-se à conclusão de que o Brasil é mais resiliente para a ótica externa do que pareceria”, explicou.
Em relação à possibilidade de que o risco país suba com eventuais incertezas e turbulências decorrentes das eleições de outubro, os economistas divergem.
Newton Rosa diz que as expectativas podem se deteriorar se o vencedor das eleições não se comprometer com a continuidade das medidas de ajuste. O professor da FGV tem uma postura mais cautelosa.
“As [empresas] transnacionais reclamam do Brasil, mas acreditam nele. O Banco Central não fez nenhuma artimanha para queimar as reservas internacionais. De fato, está impossível saber o que vai acontecer com as eleições brasileiras. A vertente política é volátil, mas a vertente econômica, mesmo com problemas no Brasil e no mundo, está fortificante”, disse Kasznar.