Economia

Ex-diretores do BC se dizem perplexos com nota de Tombini

Tombini soltou uma nota considerando "significativas" as revisões das projeções do FMI para o crescimento do Brasil neste e no próximo ano


	Perpexidade: Tombini soltou uma nota considerando "significativas" as revisões das projeções do FMI para o crescimento do Brasil neste e no próximo ano
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Perpexidade: Tombini soltou uma nota considerando "significativas" as revisões das projeções do FMI para o crescimento do Brasil neste e no próximo ano (Ueslei Marcelino/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2016 às 14h11.

Brasília - Perplexidade. Esta é a palavra que resume a reação de ex-integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a nota divulgada na manhã desta terça-feira, 19, pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Pelo que comentaram dois ex-diretores da instituição ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, uma postura dessas não tem par na história do BC.

Pela manhã, Tombini soltou uma nota considerando "significativas" as revisões das projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o crescimento do Brasil neste e no próximo ano. Mais do que isso, enfatizou que essa informação, como todas as demais disponíveis até o momento da decisão do colegiado, serão apreciadas pelos membros do Copom.

Uma das fontes consultadas revelou que estava em reunião interna na instituição em que trabalha quando um colega verificou a notícia no Broadcast por meio do celular. Os reflexos da decisão do Copom de amanhã eram um dos assuntos do encontro. Depois da informação, no entanto, tornou-se a pauta principal, conforme relatou.

"Todos os sinais do BC eram mais hawkishes (inclinado ao aperto monetário), apesar da recessão. Não entendemos o motivo de Tombini passar um recado tão dovish (suave) no meio do caminho", disse.

Se havia uma possibilidade de Tombini deixar o cargo por conta da pressão política que vem sofrendo para não aumentar os juros, a avaliação dessa fonte é a de que a revisão do FMI caiu como uma luva para o presidente do BC, que poderá usá-la como argumento. Com isso, avaliou, também não haveria motivo para deixar o cargo.

"Mas isso é contraditório com toda a linha apresentada desde o final do ano passado. Ou o BC não passou os recados certos ou teve de mudar de posição de última hora, o que é muito pior", avaliou o ex-diretor.

No Copom passado, o colegiado optou por manter a Selic estável em 14,25% ao ano. O placar, no entanto, foi dividido com seis votos a favor da manutenção e dois pela elevação imediata da taxa para 14,75% (Sidnei Marques e Tony Volpon). O que o Broadcast apurou na ocasião é que se tratava apenas de uma questão de timing, já que todos os membros teriam como tendência de atuação o aperto monetário. As discussões ficaram mais concentradas sobre quando o BC deveria começar a agir.

Para outro ex-integrante do BC, a decisão do Copom de amanhã foi praticamente antecipada para hoje.

"É claro que se trata de um comentário assinado por Tombini, que é um voto, mas é um voto importante e, mais do que isso, de 'minerva'", considerou, levando-se em conta que a decisão poderá ser, mais uma vez, dividida. Na história, vale lembrar, é difícil encontrar um momento em que o presidente do BC está no grupo dos "vencidos" em um placar do Copom.

Apesar de todo o desgaste que essa nota poderá trazer para os negócios e as expectativas, essa fonte salientou que, pior ainda, seria ver o colegiado elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual amanhã, sem ter feito qualquer sinalização sobre essa possibilidade. "A notícia de hoje chocou, claro, mas o pior dos mundos seria levar um susto ainda maior amanhã à noite", disse.

O Broadcast apurou também que, durante o evento de uma instituição financeira, um ex-diretor do BC foi interrompido durante sua fala para ser informado sobre o comentário de Tombini. A reação foi de perplexidade.

Ele teria dito que "parecia brincadeira" o BC comentar uma revisão do FMI à véspera do Copom. "Não há precedentes."

Acompanhe tudo sobre:Alexandre TombiniBanco CentralCopomEconomistasFMIJurosMercado financeiroPersonalidades

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto